POEMA A UM SER VIVO EM FORMA DE ÁRVORE
Uma árvore da altura do quinto andar
Parada, desfolhada, indiferente.
Um cara caminha caminhando
Passa pela árvore e apenas
[ao passar por ela pensa
que por alguns segundos
[em nada, absolutamente,
pensou.
Teria tido um momento
[de iluminação?
Seria a iluminação um momento
[que passa exatamente
despercebido?
Não ter alegria nem tristeza
[frente a algo/alguém qualquer
E caminhar ao sol sem senti-lo
E o vento não perceber
E não se inquietar com a buzina
[que está longe demais
[pra se fazer escutar
E não reparar nas roupas
[de tantas pessoas diferentes
[que indiferentes passam
E cumprimentar, sem pensar
[ou dizer ou sequer um músculo
[mover
a árvore silente.
E ter a sossegada sensação
de os próprios sentimentos terem
[ainda que por um breve instante
passado
E depois sorrir – sem sorrir, porém
[de esse sossego ter sido como
[o de ter passado os sentimentos
pra outra pessoa qualquer,
ainda que ninguém haja.
Como quem acabou de se lavar e,
tendo a estrada do mundo
[pela frente,
senta-se no chão do próprio cômodo
[desacompanhado
E abre uma garrafa de vinho.
Algoz