Confraternização

(Na geladeira)

quarta-feira, outubro 31, 2007

Maldições

Não é da alma a maior parte da culpa pelas desventuras do ser. É do corpo, que raramente sabe o que é controle, e ainda quando sabe não deixa escapar à alma a ocorrência de suas necessidades. É do corpo, pra não perder tempo, a culpa do amor. Pois é possível pensar que a alma não ama. E quanto maior a capacidade de expansão de uma alma, maiores as chances de ela conseguir suprimir o conceito do que seja o amor: respeito não é amor; carinho não é amor; admiração não é amor. O corpo é amor. O amor é uma necessidade fisiológica. E disso vem muito dessa exata culpa. Pensemos: a expansão de uma alma é infinita: podemos inclusive criar pré conceitos sem sequer tê-los tido e tendo-os quiçá inclusive rechaçado, num tempo/espaço qualquer do passado. E depois podemos revoltar. A alma pode tudo. O corpo é uma coisinha... Ninguém pode limitar o alcance de uma alma. O corpo é a limitação de si mesmo. É justo dizer que se sofreu uma desilusão amorosa, quando ela foi vivida pelo corpo. Porque o segundo amor, por assim chamar qualquer amor que venha depois de algum cujo fim foi um desengano (ou seja, um amor de fato), pode trazer à tona essas limitações: o corpo sabe seus limites, e muitas vezes o segundo amor não as supre: o grande amor é quando o corpo não se sente limitado pelo outro: pode ir até muito próximo de seus próprios limites, e mais além: deixa que o outro também voe próximo de seus próprios. Triste é poder voar muito, muito alto, e ser disso privado. E isso é a desilusão amorosa. Pior é – dentro disso – ter a possibilidade de afinar com o outro as questões da alma: respeito, carinho, admiração; e ainda assim ter o corpo impedido de voar seus máximos: pelos motivos que for. A alma, que é aquele órgão situado em algum lugar paralelo do cérebro, sabe dizer adeus. O corpo não.


Algoz

terça-feira, outubro 30, 2007

Diário de bordo

Depois de um final de semana de negócios, deixávamos na madrugada – como quem sorrateiramente foge, inclusive de si mesmo, pra não ver o sol dar praia a mais um dia de vida – aquele paraíso de lugar quase perdido no inferno dos homens. Dez da noite eram quando a confraternização começou a ganhar corpo. De negócios já ninguém falava. Era uma molecada bacana: o mais novo com os seus quase vinte anos, o mais velho com seus trinta e tantos: trocando experiências e culturas numa música deliciosamente composta e intangivelmente executada por cinco ou seis línguas; numa dança de gracinhas e gracejos, piadas e muita alegria. Perto das onze atracaram à mesa uma jarra dos seus três, quatro litros. Disseram que era suco de maracujá. Foi pena eu ter bebido apenas um copo daquele suco, pois estava com minha cerveja quando ele chegou, e à meia-noite tivemos de seguir caminho. Adeus Bélgica, adeus Espanha, adeus Holanda, adeus Nova Zelândia. Adeus Alemanha também, que já então dormia – ou fazia coisa melhor. E adeus todos mais que eventualmente se atracavam enquanto tristemente nos fazíamos ao mar que nos levaria de volta à inútil realidade quotidiana, com sua eterna mesma estúpida língua – a dos homens a sobreviver sempre tentando alcançar com os pés as cabeças alheias. Certamente aquele suco fez, depois de nossa partida, com que as línguas se multiplicassem ainda um pouco. As línguas daquelas pessoas de bem, naquela situação como poucas propícia.

***

Segunda-feira, havia pouco era dia. O tranco causado pelos pneus a tocar a pista me abriu os olhos, mas ainda não toda a apatia que logo viria por regressar à cidade má – além de ter de ir trabalhar sem cama ou banho que me refizessem: da música e das danças do mundo; da fadiga de uma noite voada. Então já estamos taxiando, eu olho pela janela. Certamente há alguém nesse avião que pensa sua própria parcela na mesquinharia do mundo. Certamente.

***

Vejo um homem pilotando o veículo que transporta as bagagens dos aviões pras esteiras, onde muitas vezes as pessoas – quiçá vizinhas de assento pelas quiçá muitas últimas horas – se acotovelam com o nobre – justo, porém – intento de recolher de volta pra si seus pertences materiais – que já então muitas vezes englobam memórias: penduricalhos engavetáveis de toda ordem.

***

Penso eu: Pobre-diabo... deve ter começado às quatro, cinco da madrugada... e hoje é segunda, dia do cão... tem a semana inteira pela frente ainda... pelo menos trabalha ao ar livre, dos males o menor... e usa aquele fone de estúdio pra não perder a audição perto de tanto avião... deve até ser bacana andar com esse trenzinho minúsculo pra lá e pra cá perto dos aviões... mas no fundo, no fundo, deve ser uma merda mesmo... Na verdade eu pensava blábláblás. Aquele homem tinha a sorte que tinha, eu tinha a minha, e assim éramos, assim estávamos. Mas era segunda-feira, e isso doía bastante. E a mulher do piloto de bagagens estava, naquele momento, com o rapaz que ao microfone alerta aos passageiros as últimas chamadas de seus vôos e informações afins. Ela que é faxineira e lá mesmo no aeroporto conheceu seu marido. Ela que foi trocada de turno pra então conhecer o mocinho que a conquistou sem saber, só por ser o portador da última e grande voz que despede às incertezas do céu os reles seres que por lá se aventuram. Ela que não vai ter coragem de largar de vez o marido pelas incertezas a que os seres que se aventuram não devem se arriscar. Coisa humana. Amanhã ou depois volta a gostar do marido como antes... mas em não ocorrendo assim, assado pode ser o marido se propondo a também trocar de turno, e num ato de desespero ela tentar – e conseguir – ela mesma voltar ao turno original... e adeus mocinho... como adeus Bélgica, como adeus primeiro amor, como adeus pai, adeus mãe, adeus tudo.

***

No vôo que chegou às dez e trinta e oito havia numa das janelas uma criança dos seus seis anos. Curiosa que era, viu o trenzinho e ao condutor lançou um ingênuo tchau. Mas ele, num momento de rara descontração, viu o exato improvável momento e, alheio ao que de sua vida continuava a ser feito ainda àquela hora, sorrindo fez de volta à criancinha: adeus.


Algoz

segunda-feira, outubro 29, 2007

Entre Aspas

Esse texto seria, originalmente, um comentário ao texto "Real", de autor "desconhecido". Como vejo nele uma certa utilidade "pública", resolvi postá-lo na página principal do blog (como se o blog tivesse páginas secundárias).

Como é bem provável que o "autor" desses textos "estranhos" seja o Siscão (ou como queriam chamá-lo, ou como ele queira ser chamado), só queria dizer que, se você for "sumir" de novo, não se esqueça que eu te pedi para me avisar antes, hein seu "porra loka"?!?!
Outra coisa: em tempos atrás, eu o reprimia por escrever de forma tão "incorreta", com uma certa quantidade de erros de português e falta de revisão na digitação. Enfim, como para ti não faz diferença alguma e, no limite, para mim também não faz, nem tô ligando para os erros desses últimos textos, ou seja, NÃO VOU CORRIGÍ-LOS...hehehehe!!! O blog está sendo mais do Algoz do que meu, então...

Aliás, me parece que o blog não tem mesmo um dono. Os "donos" são aqueles que detêm a senha, mas, desde o começo, não nos preocupamos em controlar a "disseminação" dessa senha. Portanto, para formalizar, desde que feito com bom senso, não vejo problema em, sempre que achar-se interessante, devamos "dar" a senha para aquele que quiser(?) ter seus textos publicados aqui. Como fizemos com muitos que acabaram participando do blog ao longo da sua "história".

Gostaria de atentar as pessoas para um outro fato: o blog já fez mais de "dois anos e quatorze dias". Portanto, espero que alguém tenha comemorado...hehe...Eu, sinceramente, não comemorei, apesar de estar pensando na importância que esse blog teve e tem em minha vida. Parece pouco, mas serviu para muitas coisas, e nos deu muitos momentos, tanto engraçados como não-engraçados, o que não quer dizer que foram, necessariamente, tristes.

Mais uma novidade: o Fred, nosso amigo que teve muitos de seus textos publicados aqui, está com um blog novo. Gostaria que os leitores desse blog, os 13(?) que talvez leiam isso diariamente, visitassem, também, o novo blog do Fred.
www.fred-grafiq.blogspot.com

Outra novidade: eu mesmo, seguindo a trilha aberta pelo Fred, estou iniciando um novo blog, ainda em "construção". Assim que estiver pronto, avisarei aos "interessados".

Rodrigo de Lima Silva

sábado, outubro 27, 2007

Real

Quando o tempo passa....e nada mais importa....é perfeito.
Escrever é como andar por ai...sem rumo....sem se importar com nada
Na verdade....não ha tempo....e não há mais tempo...a esperar.....
algo acontecer.... é .... o tempo todo.....não se importar é ser livre....
de qualquer coisa que possa te impedir....de se entregar e sonhar....
o real..........nada mais .....apenas o real............................................


Talvez você possa ... já pensou nisso ?

Penúmbra

Na penumbra da noite
ao raiar do amanhecer
vem de longe o abstrato
a surgir num só clarão
a enxergar um só além
um só vaziu que lá contém
e que é lá que me entretem
a ser alguém ,a ser além
e vem que vem.....
e vai que vai.......
na penúmbra do quero mais


Assinatuda

Palavras

palavras pala vras
pa lavras pala vras
pala vras
palavras palavras
palavras palavras palavras
pa lavras palavras
pa la vras




Palavras

Fantasia

O ser a andar pela floresta do cosmos em um jardim se flores roxas a lhe rodear.De repente percebe uma árvore frondosa,lá ao alto da montanha de cores claras,contrastando com um céu de cor azul celeste com um sol a clarear.
Atravessou o vale rosado pisando em espinhos ,o pé não doía pois o pé não via.....
chegando ao pé da montanha se olhou como um espelho e viu o infinito cercando seu contexto de ser....
ao começar a já subir...logo foi a escorregar.....a montanha é de tinta de pintar
depois de entrar não há escapar,pois a tinta da alegria não dá p/ se limpar-se....
rápido não sobe,devagar afunda.Lá do fundo gritou!!! pare de tentar....
Hei!!! meu rapaz....a coruja em seu ombro a pousar.....
O que faço ? Ó ser voador....
O que quer ?Ó ser terrestre....
Quero aquela árvore frondosa lá ao alto.....é tão linda como faço?
Resposta eu não dou....mas estou a ajudar.....basta olhar com ar e a escada irá notar...
O ser parou e notou ...ao redor tudo é igual...a diferença é a escada....que já estava em sua cara....com a pressa escorregou e já na tinta se olhou...
Esta escada é confusa ó coruja.....
Pare e pense consciente.....confusa pode estar a sua mente.....
Mas como vou alinhar algo que não estou a encontrar?
Pare de pensar e deixe rolar....não precisas rolar com o rolar....
O ser...depois de dar ouvidos 'a coruja.....simplismente cessou seus pensamentos
Sentado em uma planície a vislumbrar a bela árvore.....
Assim foi a observar a escada reta estar.......
e passou a escalar no rítmo do não estar.....
degrau por degrau e a dança a fluir......
em um espiral todo de cáos...a iluminar sem atrapalhar.....
e pos-se a lá chegar.....
No topo daquele altar...a realidade a vislumbrar....com a bela árvore a sustentar....
Ó árvore!!!!Ó arvore!!!
Como é bela aqui de perto......
belo és tu....ó mente limpa.....
Ó arvore...sinto que quero te abraçar e a ti me juntar......
A beleza de aqui estar .....é já me ser sem perceber.....
E assim o ser percebeu.....que a liberdade esta cada um em seu lugar
para tudo admirar a beleza de lá estar.....

........................continua quando vc quiser continuar.....................................


Árvore da plenitude...

A despertar

O desperto lá está
esperando o despertar
eis um erro
de esperar
o que não há a chegar
anda pelos campos
vive nos confins
sobe para baixo
e desce para cima
até parar de descer e subir
a escada da dúvida
vira uma reta linda
no caminhar sublime
De um só despertar

Viva a liberdade...

Coiote

Corre.....
atrás.....
Vái....pega......
segura......mata.
Corre...
atrás....
Vái....pega.....
segura....mata?
e corre...



atrás...vái....pega....segura...não morre!!!

Fraboletas

Braboletando por ai...........
com métodos transcedentais de convicção
para melhor abster os famintos de lutar por si sem armas
e ver para crer?de novo?
Tudo é único
AAAAAAAhhhhh........Fraboleta......
quão biita és sua soneta?
diga pá eu....que sou seu.....amigo?
Boooosque de flores a fraboletas.....a frabuletas...
avua aqui....pousa ali......avoa aque...pósá alê....
e viva a liberdade da fraboletas!!!!!!
eeeEEEEEeeeeee frabo......fraboletas..................
............chowwwwwwwwwwwnnnnnnn...............



Mar em chamas

Lago

estar a olhar o lago


tão calmo......


tão sereno.....


tão visivelmente invisível
tão intensamente compreensível
tão absurdamente desconexo
com os carros a passar na avenida

é tudo assim mesmo...

quem vê 2 vê 2 sempre 2...
mas...neste momentummmm....
não vejo mais lago...
não vejo mais carros...
não vejo separação
não vejo união
vejo a mim mesmo
na imensidão da não divisão

...



Palavras ao canto da página

Píndaras

Dragão veio voando por sobre a colina
chamoscando os aldeões e queimando suas casas em chamas.
Atrás dele vem 'a cavalo seu combatente fiel
Dargão pousa na montanha bicuda lá na frente.....
De frente para o guerreiro que se aproxima
Olha aqui dragão ...vai me enfrentar ou fugir?de novo?
HAHAHA........nobre cavaleiro......nem sabes o que sou ...
Como vai me enfrentar?
Com minha espada a te furar seu grande insensível.....
Da mesma forma que suas palavras não me atingem
essa sua espada jamais atingirá!!!!!
e foi a voar.....

e o guerreiro a pensar e perguntar....

e

o guerreiro a pensar e perguntar


caçando seu Dragão





Asas da liberdade

quinta-feira, outubro 25, 2007

Pipa

Voemos!
(Cada vez pra mais longe)

Mas se morrermos
Que seja sorrindo

E se voltarmos...
Que não voltemos.


Algoz

quarta-feira, outubro 24, 2007

Adeus é...

a saudade se cansando – sem saudade – de sentir saudade de seu próprio objeto.


Algoz

A vida
Estranha vida
Como que me dá algumas coisas
Boas coisas
Assim
De graça
E eu agradeço
Feliz
E em silêncio

Mas, eu mesmo
Que estranho
Eu mesmo também me dou coisas
Meio que sem querer
Mas
Coisas ruins
Pensamentos ruins
"Não posso
Não quero
Estou cansado
Doente
Sou um covarde"
Mais presentes doídos
Do que a vida me dá

A vida
Minha vida
Deu-me você
Você, a coisa que mais quero
Você, que me suporta
E eu queria
Não dar a você presentes ruins, também
Você não merece
E sabe lidar com a vida melhor do que eu
Sabe ser melhor do que eu

Me diz como viver!
Me diz como é esse negócio de saber viver!
Cansado?!
Estou cansado do que dou a mim mesmo
Estou cansado de lamentar coisas que não se lamenta
Não quero desistir
Desistir seria mais um presente ruim
Quero descobrir
Quero conhecer o que é bom para mim
E dar-me
Além de você
Outro belo presente

rodrigo lima silva

terça-feira, outubro 23, 2007

Horário comercial

Mas a vida é mesmo isso: a eterna busca de algo que raramente se alcança. Minha amiga se perdia em sua busca por soluções pra suas pré ocupações – não eram poucas; meu amigo se perdia em sua busca por (des)pré ocupar-se de tudo e de todos – não que precisasse fazer tanto esforço pra isso. Eu trabalhava – e nem os deuses sabem como: também eu precisava de solução pra muitas coisas, e também de me (des)pré ocupar de outras tantas. Tinha ainda que agüentar a intolerância alheia, em tantas e tão ínfimas situações. Ninguém tinha dito que seria fácil... mas precisava ser tão obstruída?: ordens sendo cumpridas de forma mal feita pela cabeça em outros lugares e em outras pessoas; carinho e afetos sendo dados de forma apoucada e constrangedora pelo tempo consumido em desperdícios cerebrais de ordens tais que nada valiam... senão pela verba que geravam – pouca, enfatizo – e nada além.
Era tão difícil que mal podia eu parar meu próprio tempo (?) pra escrever sequer um bilhetinho de amor pros meus amigos, que se esvaiam de minhas órbitas enquanto eu, inertemente, os queria perto de mim apenas: com meus olhos; com minhas intenções alcoólicas; com minhas idéias esdrúxulas: que eles mais que ninguém acolhiam, e em troca me davam as deles... e essa troca nos confortava e nos distraía dos murros que nos deixávamos tomar de tudo aquilo a que chamávamos vida.


Algoz

domingo, outubro 21, 2007

Maravilha

Percepção
Simplismente percepção das coisas
Simplismente percepção de você
Tudo a mesma coisa
Para que escolher se dá na mesma
Não há diferença
A impressão é diferente
Dividir é iludir
separar é lamentar
É o que é, não vai mudar
não precisa tentar
tentar é sempre tentar
querer é sempre querer...e por ai vai....
se vc pensa...vc pensa.....
Partindo do ponto de vista de que somos agregados infinitos de infinitas coisas infinitas ao mesmo tempo.....como ser o que somos?Como vivenciar isso?
Quer dizer ....isso seria realização não?
Vejamos.....se nós nada...tudo
São opostos....divisões de nós.....
A plenitude está onde não há divisões certo?
Naturalidade.....Fluir com o todo
Absorção...aceitar.....sem contrair.....liberar
Já somos basta perceber.......somos realização
Somos plenitude....
Harmonia pura......
parar é se encontrar....parar a mente......
Enxergar as coisas como são...sem alteração mental ou sentimental ou física.....
E nos enxergar com isso...tudo ao mesmo tempo...tudo é agora......
Não é depois....
Não é antes.....
Que vamos vivenciar isso.....
É agora.....que é real ...não é?
Veja bem.....
Somos.....é presente......plenitude é presente....
nem futuro ,nem passado
Seria...futuro....não é nós....nós somos
Foi...passado....não é nós....nós fomos por acaso?ou nós somos..presente ...real...agora...
Plenitude,iluminação,realização está aqui e agora....exatamente onde estamos....
mas exatamente mesmo....qualquer movimento seja mental ou qualquer outro....não é real...é ilusão......ilusão do que somos.....ilusão de nós mesmos.....
Pensar...é sempre no futuro...ou no passado....não é?vc por acadso consegue pensar no presente..no agora?
Não é o agora que se movimenta....o agora é iluminação....é real....imutável....absoluto....quem se move é a mente.....
Não há mente no agora.....não há dúvidas no agora.....a dúvida consiste na divisão de nós mesmos....dai vem a insatisfação..e os incomodos existenciais...
Natural.....os penamentos vem e vão.....o agora permanece......não se atenha a seus pensamentos....quando vem....um pensamento...nada mais.....e vai...e voce continua.....o mesmo..
sem mudança(percepção).....o incomodo vem de supostamente sairmos de nós.....imagine....
Você é sublime,maravilhoso,livre....ou seja.....Jesus cristo Sabe oq diz quando diz:conheça-te a ti mesmo......porque é a pura verdade...isso é verdade..não é?Ser o que se é......se acreditamos que somos algo além disso ...vem o incomodo.....sofrimento e tals...pq não há além,nem antes disso....
se largarmos o que quer que estejamos segurando....pronto....vem o alívio....o estalo da percepção.....
Relaxe.....se solte......não é necessário contração....desapego total.....isso é que é liberdade não?
Perceba.....isso que aparentemente não se controla...somos nós ....não se controla pq somos o controle.....não quer nos fazer de bola de ping pong....somos nós.....mas estamos divididos..pq acreditamos que somos oq não somos ..ai quem fica de bobo....?a verdade é quem não é certo?
a ilusão....é que fica p lá e p cá..o tempo todo....se vc se apega(segura) na ilusão começa a girar com ela....ela gira....o tempo todo....ai vc fica tonto...confuso sobe tudo....e ja esta perdido.....
basta largar.....largue a ilusão.....vai haver o processo contrario do desenrolar.....é como vc ficar girando e girando o tempo todo sem parar......ai vc para...larga tudo.....ai vc percebe que o redor é que esta girando....não vc....vc esta no centro.....o centro ve girar mas não gira.....ai o redor começa a parar....e parar.....até que não se move mais.......tranquilidade......
sempre vai haver os perdidos....os que observam os perdidos girar.....e os que estão em todo lugar ao mesmo tempo......pois quando nada mais se mexe.....vc esta em paz para desfrutar a imensidão ......sem medos.....sem incomodos.....libertação.......


Daniel Siscão

quinta-feira, outubro 18, 2007

Longe

Se eu tivesse continuado
[Naquele dia sem sentido
Caminhando sem direção

Haveria talvez uma chance
[Grande até, eu diria
De essa caminhada
[calada e triste e infrutífera
Resultar uma cena tediosa
Que de tão monótona viria
[a virar uma fotografia.

E o bicho, quieto, caminhante
[em que eu teria me transformado
Seria, pra além de inexplicável,
[muito também inexplicado.

É que quando me ocorreu
Essa eterna irremediável
[Insignificância,
Fazia já algum tempo,
Fazia já alguma distância:
Que eu não conversava com pessoa,
Que eu não ouvia voz.

(A não ser minha própria, sem som,
pensando esse tal insólito caminho,
E aquelas pessoas que nele se foram
[apoucando,
Até virarem essa indiferença
De meus pés errantes
[que deveriam ter continuado.
Talvez


Algoz

quarta-feira, outubro 17, 2007

Res sem timento

Bem aventurados aqueles raríssimos que conseguem se relacionar sem subordinar a questões sociais quaisquer os sentimentos que nutrem pelo outro. É claro: é gostoso gostar de alguém por quem se atraia fisicamente; confortável gostar de alguém financeiramente aconchegante; redentor – e muito difícil pra muitos sequer o perceber disso – é gostar de alguém que seja de alguma forma necessitado; há mesmo quem diga – e de fato acredite – que de todas as comodidades de um gostar, a mais interesseira, dizemos, interessante, é gostar de alguém em menor quantidade e com menos qualidade do que o gostar que esse alguém sente por nós. (Caberia questionar quem sabe mensurar um sentimento. Dois, então... Mas seria ainda mais inútil do que todo esse resto.) Então, acordado que na prática se faz quase impossível um gostar insubordinado a questões sociais, permitido seja pensar com ressalvas os relacionamentos em que o sentimento ultrapasse certo nível de subordinação a qualquer uma delas. É interessante: a vida – na quase absoluta generalidade – acontece na prática, longe dos recônditos românticos da mente humana. Sonhamos o amor; mas vivemos o trabalho, os estudos, o estresse, a doença, os vícios. Mesmo os sonhos gerais do ser humano estão num plano menos recôndito do que o amor. Vivemos o sonho da riqueza: por isso o trabalho; vivemos o sonho do poder: por isso os estudos; vivemos o sonho do conforto: por isso o estresse; a doença muitas vezes surge de um sonho vivido com muito afinco de se alcançar algum padrão de beleza; vivemos o sonho da imortalidade: por isso os vícios. E assim vai. Mas o sonho do amor raramente é vivido. A não ser pra quem acredite que a soma do que seja o amor com todos os atritos e conflitos dele advindos resulte algo de que se possa subtrair tais desconfortos. (E aqui também caberia pensar que há pessoas que não vêem em atritos e conflitos formas de desconforto. Mas seria uma balela a mais.) Então, voltando: a vida acontece na prática, ignorante do que seja o tal do amor. Mas quando o caldo entorna, aí é que a prática pode mostrar todo seu poder... prático: mostrando como garras os sonhos que não nos importamos em sequer tentar viver, em nome de sermos práticos... e não termos tempo ou disposição praquela coisinha boba que guardamos na última gaveta de nosso inconsciente, mais desimportante que uma discussão de trânsito. Por essas e outras: bem aventurados aqueles raríssimos que conseguem se relacionar sem subordinar a questões sociais quaisquer os sentimentos que nutrem pelo outro.
Quanta bobagem!


Algoz

terça-feira, outubro 16, 2007

Ressentimentos

Era um domingo. Eu sabia e respeitava: os não-solteiros que um dia passaram por nossa cama não devem ter seus sagrados temporários túmulos perturbados entre as dezessete da sexta-feira e as dez da segunda. Sempre vi nisso das maiores bobagens, mas o respeito, entre outras coisas, é isso: não tentar moldar o outro à própria imagem e semelhança. Eu, por mim, nunca tinha me esquivado de telefonemas – que não foram poucos – ou de visitas – raríssimas, é verdade.
Era um domingo. Eu tinha um evento pra ir, com meus amigos e amigas, e não havia qualquer intenção sexual de minha parte em dividir aquele apenas socialmente constrangedor fato: sobrava um ingresso. Sobrassem dois, e tudo seria ao menos menos constrangedor: eu diria "Olá, tenho dois convites sobrando pra tá tá tá, vocês não querem aproveitar?", e a recusa – certa, ao que muito me parece – se daria de forma menos tensa. Mas não.
Quantas vezes não repensei o que ia fazendo, com todos os números já discados e na iminência do ato constrangedor, antes de realizá-lo de fato? Muitas. Mas há de considerar, mesmo aquele que me reprovar, que um ingresso – não barato – pra um evento que certamente não se repetiria em menos de dois anos – pra ser ameno – não era coisa pra simplesmente se guardar no bolso e sorrir, contabilizados o prejuízo monetário e a tristeza de uma pessoa a menos agraciada pelo tal evento – que veio a ser deliciosamente agradável. Mas não.
Toca uma vez o telefone, toca a segunda vez, ela atende. Começo já pedindo desculpas por perturbar as conveniências. Pergunto se ela conhece tá tá tá, explico que há um ingresso sobrando... "Não conheço, e você sabe que ainda que eu conhecesse, não iria..." Há uma tentativa mínima, minimíssima, de se manter certa polidez. Em vão. Enfatizo, honesta e sem-graçamente, minhas desculpas pela inconveniência. Desligo. E todo um mundo de mim desaba.
Toca em mim uma sirene de irreversível adeus. Sem muito pensar – que não era de então que isso se fazia uma inevitabilidade –, troco, infeliz-tardiamente, o carinhoso apelido que em meu aparelho de telefone vinculava tal importantíssima pessoa de minha errante vida a três números, pelo austero e insensível nome de batismo: eu perdia o último vínculo afetivo do que se chama a 'vida amorosa'. Finalmente – e como já então havia muito eu mesmo sabia um dia iria acontecer – sobravam-me os amigos, apenasmente. Longe de ser isso pouco: mas tão longe quanto de ser um alívio.
Cinco minutos depois consegui, contra minhas próprias expectativas, falar com aquela bonita moça querida, quase-amiga íntima-quase daquele caríssimo amigo que na tal noite estaria presentíssimo. Era em cima da hora, mas ela aceitou. Não quis questionar – naquele momento –, a diferença de atitude. Apenas me contentei – e me emocionei – com as boas novas, e deixei de pensar no que considerava das piores possíveis atitudes que esse infeliz do ser humano toma, nos simples e belos momentos da vida, por fazer deles grandes monstros de mil cabeças que abalam as merdinhas de estruturas que ele próprio – o pobre ser-humano – cria pra se proteger – a si e às convenções que o agradem – do que possa, de alguma substanciosamente bela forma, questionar tais efêmeras estruturas. Eu estava esfuziante com a futura presença de alguém agradável, então deixava pra depois tais tristes constatações. Mas elas viriam.
De meu triste repúdio, cheguei sem esforço a considerações ainda mais tristes. Se eu havia sido deixado de lado por uma ou duas mulheres, certamente seus motivos envolviam – pra além da falta de suposto suficiente sentimento – essa minha eterna pose de moleque, supostamente inapto a ser um pai de família socialmente respeitável. Triste mundo, eu pensei: "Vamos ver no que isso vai dar". Mas, imediatamente me remendando, postulei: "Eu não vou estar, aqui ou lá, pra ver nada disso. Nada." O que houvesse de ser, que fosse. Aquele menino Ricardo já havia dito: "Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo".
Mais tarde, naquele mesmo irreversível dia, recebi uma mensagem de pedido de desculpas pela suposta não-intencional grosseria. Desculpei em silêncio, e fui, indiferente a qualquer coisa que não fosse o tal evento, apreciá-lo. Mas por algum tempo estava claro que as amena-belas conclusões de Braga, eu deixava pra ele, apenas.


Algoz

quinta-feira, outubro 11, 2007

Money, money

As plantas nada interpretam
[e não latem e nem soltam pêlos
[e não deixam resíduos que incomodam.

Compra um homem uma rosa
e sem alarde pela rua caminha
Vem a mulher com quem copula
e feliz se joga a seus braços:

– Que amor!
Ela exclama, e faz biquinho...
[E toma-lhe a flor!
Mas o paciente homem, diferente
de seu paciente habitual
(sem porém perder a paciência)
Lha toma de volta a seqüestrada
(mas ele carinhosamente)
E diz, sem meias palavras
– São pra minha mãe...

Ela, enfurecida, afasta-o violenta
Lança-lhe lindos impropérios
(quiçá um tapa)
E dá as costas.
Ele sorri, segue seu caminho.

Chega em casa, arranja um vasinho
Deita a rosa com carinho
E deixa pra sua mãe um bilhetinho
Com um escrito bonitinho qualquer.

Volta pra fora, se senta na calçada
Pensando nos pré conceitos por trás
do ataque histérico de sua amante.
Certíssima de ser a pobre flor
regalo pra um outro, escuso, amor,
Ela questionava, em baixíssimo vernáculo,
A fidelidade do pobre-diabo.

Mas ele, que nada devia
[a ninguém, nessas matérias,
Divagava outras balelas também
(mil vezes, pra ele, mais importantes).
Fazia em mil passos os caminhos
[das coisas e de suas pessoas
E depois reduzia-os
[em sofistas aforismos
Que acabou por idiotamente registrar
[não sem rir, de si mesmo.

Começou com o melindre
[da hipócrita fidelidade,
E foi, foi, foi...
Chegou em previsões econômicas
decorrentes da conseqüência
da confluência
da coincidência
de mil fatores plausíveis
de poderem ter sido causados
[pelo tal melindre.

Veio-lhe – naturalmente? –, à cabeça
O nome de Adam Smith.
(Coisa da mais irrelevante)


Algoz

quarta-feira, outubro 10, 2007

Aos amigos as plantas

Uma sociedade em que o valor mais procurado num parceiro é a fidelidade... essa sociedade vai acabar pagando cada vez mais alto e cada vez por mais produtos de tamanho/quantidade individuais.


Algoz

terça-feira, outubro 09, 2007

De um abraço bom

Cinco muito corridos dias (in)úteis depois, vinha o tão sonhado sábado finalmente. Mas já oito horas da madrugada eram quando enfim deixei meu corpo dormir de fato. Já desde a segunda-feira doía um meu olho, sinal do cumulativo estresse – mental e físico – decorrente do quase final dos tempos que ao meu corpo minha mente vinha impondo de tempos pra então. Na terça-feira havia doído um pouco mais, na quarta mais ainda. No sábado – que nem sábado ainda era, pro pobre-diabo do meu corpo –, como ele mesmo ignorasse o ter-se ido dormir às oito, quando às dez da manhã acordei, cada vez que piscava os olhos uma agulhada parecia atravessar o vértice externo desse estressado olho. Uma agulhada.
Já quatro da tarde eram quando – sem descanso desde aquelas remotíssimas dez horas da manhã – meti freio ao tempo. E sem querer e/ou perceber. Uma amiga, que me acompanhava na incansável tarefa de viver aquele suposto dia de descanso, precisava comprar flores. Mais de cinco floriculturas não tinham o que ela queria. E ali, pertinho de casa, num recanto florido e florado que ambos sabíamos existir mas ela nem eu conhecíamos, fomos tentar minhas últimas energias. Não, não havia, ali tampouco, o que minha amiga queria. Mas não conseguíamos ir embora. A senhora que nos recebeu era uma flor, e as plantas todas juntas à água que as tinha regado ao longo de todo aquele dia – enquanto meu olho agulhava meu cristão-ego pelos excessos boêmios da vida – produziam um aroma de lar que era como a religião por excelência: um reencontro com a origem das coisas sem mediador ou imagem ou imagem da imagem. Havia uma cor predominante, que era o verde das folhas de tudo que era vivo e ali respeitosa e pacificamente existia. Mas o travesseiro no qual a essência de tudo – inclusive a minha, eu que duvido da essência humana –, o travesseiro onde a essência de tudo se comunicava em harmonia... era um cheiro: o cheiro das folhas e flores e de toda a terra e de toda a areia e de toda a grama e da água que por ali semeavam a própria continuidade daquelas evoluídas formas de vida que são a vegetal e a mineral. Não conseguíamos ir embora.
Encontrei enfim um vaso que muito me atraiu, e cujos detalhes me fariam fantasiar mil ideais mundos. Limito-me a dizer: era bonito em si; as plantas que nele habitavam eram umas graças; seu preço era justo; comprei-o. E nesse entrementes senti saudades daquela moça por quem eu sentia carinho e que, pra serenidade geral de nós dois, demonstrava, sempre, em nossos esparsos encontros, um carinho que doía ter tão pouco tempo pra se demonstrar. Então decidi que comprava aquele vaso de presente pra mim mesmo, e que ofereceria àquela moça o carinho que na prática eu viria a dar àquelas pequeninas e lindas plantinhas que haveriam de continuar a me fazer emocionado enquanto vivessem. Decidi que enquanto ela fizesse parte da minha vida, aquele vaso seria o pedaço simbólico dela que faria companhia ininterrupta aos pedaços simbólicos de mim que eram ora o quintal com suas já residentes outras plantas, ora minha cama e minha vitrola. O pedaço simbólico dela que faria companhia também a mim, quando eu lá estivesse na ausência física dela.
E da história toda – que nem essa era, mas sim do olho, que acabou ganhando um colírio na segunda-feira de manhã e me fazendo ficar sem álcool por uma semana –, da história toda ficou apenas um vaso, que vez ou outra eu levava pro quarto... e pra quem os meus discos demonstravam, em forma de notas musicais, o carinho que eu sentia por ela.


Algoz

quinta-feira, outubro 04, 2007

Hoje

RASCUNHO A UM AMIGO

Aquela janela se foi, de fato
A outra não veio, como planejado

Mas fizemos o mundo girar
Apesar do tudo
[que não foi pouco,
das janelas de qualquer lugar.

Mas de tudo, o que mais importa
É seguirmos compartilhando
[nossas inúteis bobagens
[e nosso silêncio.


Algoz

quarta-feira, outubro 03, 2007

Coisa séria

Coisa séria é ser humano: e perder a capacidade de se deixar afundar e brincar nas profundezas da água de mar que é a vida: e se contentar cada vez mais com cada vez menos, cada vez mais tristemente encoralado à superfície (?): e sem ter a visão de todo do como é perigoso e tenso se manter sempre entre as ondas do infantil – e quiçá tolo –, onde quase ninguém volta; e a boca eterna do oceano sempre aposentado – e quiçá louco – onde quase ninguém vai.
Até o dia em que das profundezas emerja algo qualquer – e todos sabemos que nas profundezas há absolutamente tudo, de tudo –, pra mexer a água à volta de um ou outro... quiçá meter sal às narinas, aos olhos, à garganta... afogar um grande ou pequeno sonho aqui, outro ali... o ser todo – acontece, às vezes. Pior: a humanidade toda, junta, tem mais de um pulmão e meio cheios de água: mas não desiste dali: de entre as pequenas ondas e as grandes correntes: o meio.
Mas pode ser que nada aconteça – como [quase] sempre acreditamos acreditar –: por isso somos, humanidade, estatisticamente: medianamente felizes.


Algoz

terça-feira, outubro 02, 2007

A morte de um sorriso

Bastava estar lá na hora do almoço certa. E estar sentado nas mesas do lado de fora, com vista pra calçada da avenida, que era onde aquela van encostava todos os dias úteis, pra deixar aquele moleque. Tinha cara de C.D.F. – como dizíamos no nosso tempo – e um sorriso gostosamente simples de quem é moleque e, apesar da cara de C.D.F. – e de quiçá ser, de fato – ser querido por seus próximos. E todos que naquela padaria almoçavam concordavam – e sem precisar de palavras, mas apenas sorrisos, e eram muitos –: aquela cena, sozinha, valia sempre a pena da solitária hora do almoço: a porta do automóvel se abria, e enquanto se ia abrindo já era possível ver, lá dentro, todos sorrindo por aquele segundo que chegava e que era, triste-alegremente, o momento da despedida. Então ele curvava o corpo – pra descer à calçada –, e todos, cada um de acordo com seu próprio estado e alcance, lhe estapeavam a cabeça. E nosso herói, quase tropeçando, se recompunha enquanto a porta da van se fechava e o veículo já se ia movimentando. E tudo isso com aquele sorriso maroto que só vendo pra entender. E todos os dias era a mesma história.

***

Comíamos talvez panqueca, eu e minha quotidianíssima amiga, num dia em que lá estávamos nessa hora certa de todo dia que nem todo dia conseguíamos presenciar. Eu comentava minha chateação pelas pessoas que – talvez inconscientemente – desonravam suas palavras esquecendo-se das propostas por elas mesmas feitas. E pensava concluir que as pessoas, às vezes, se forçam mentalmente uma situação com tanto ímpeto, mas tanto cego ímpeto, que ao invés de baterem no fundo de qualquer coisa e voltarem – com alguma sorte enriquecidas –, batem no fundo dessa coisa qualquer e por lá se deixam estar – temerosas talvez do regresso?, temerosas talvez de estarem erradas dentro daquilo a que se propuseram? –, tristemente ignorantes de um dedo amigo ou outro que pensasse lhes tatear um ou outro ombro numa esperança já resignada de lhes fazer ver qualquer coisa senão a caverna a que sistematicamente se tivessem proposto crer como saída – ou entrada – pra algo qualquer de conscienciosamente abstrato e falível. Mas, ao final da conversa – uma vez mais – nada concluí. Era um assunto chato, eu sei. Mas sobretudo triste.
Lá vinha o carro. Parou. A porta se abriu, quase nenhum movimento. O moleque desceu, sem tapas. Seguiu caminhando, sem sorrisos. Era já a terceira vez seguida. E pra isso havia uma conclusão, nem feliz nem triste, apenas inexorável: aquelas crianças tinham crescido.
Então dei a última garfada pensando que também as Kombis do nosso tempo “cresceram”, e viraram Bestas. E desde então pessoas queridas já não mais se importam em nos dar as costas.
Nessa noite sonhei com um menino com cara de panqueca. Uma panqueca triste.


Algoz