Confraternização

(Na geladeira)

sábado, agosto 11, 2007

Variação da Solidão - Parte X *

Não é interessante tudo isso? Não é interessante viver as escolhas que se faz? Mas, quando foi que optei pela solidão? Sempre, em cada mínimo detalhe: nas saídas de canto, no silêncio dos pensamentos não ditos. Ser desta forma pode não ser optar pela solidão - que é a falta da presença de outro corpo, ou outra idéia de corpo, desde que seja sempre uma presença -, mas é, por conta de como tudo funciona hoje em dia, uma implicação necessária.
Embora eu torne tudo mais complexo do que poderia, de fato, ser, não acredito que essa falta de companhia afetiva seja uma decorrência de todas essas práticas de contestação das formas de se relacionar: não ser da côrte, não parecer ser, não atacar, não incomodar, não inventar sentimentos, para mim ou qualquer outro ser, não transformar o outro à minha imagem e semelhança etc. Confio no meu carinho. Das idéias que tenho de mim, a de carinho é a que mais me agrada. Pode ser que eu morra sozinho agarrado a esse carinho (e tédio; descrença) que sinto por tudo, mas isso ainda perece ser menos pior do que passar a acreditar e agir de acordo com coisas que não existem: sucesso, amor, moral, caráter... O ideal seria que houvesse uma correspondência. Uma correspondência natural entre as coisas ou modos de ser. Que um carinho encontrasse outro carinho, simplesmente.
O importante é não acreditar.


Bruno*

3 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Peço desculpas por esse "diário".

agosto 11, 2007 2:58 PM  
Anonymous Anônimo disse...

gostei muito do texto
mas você deveria primeiro definir a solidão
pois, nesse seu caso, senti uma solidão no meio da multidão: está sozinho não pela falta de pessoas, mas pela falta de uma pessoa, de a pessoa - mesmo que essa pessoa ainda não seja sequer conhecida
no mais, a solidão não é algo que exista... então não se pode reclamar dela. exceto se realmente for sozinho, mas creio que não
só resta, para qualquer um que vive ou viveu nesse estado, continuar vivendo e aproveitando os momentos enquanto a pessoa não vem: se preocupar demasiadamente com essa falta é pior do que a própria falta é

agosto 12, 2007 12:01 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Muito obrigado, Leandro.
Há no começo do texto um esboço de definição da solidão: "solidão - que é a falta da presença de outro corpo, ou outra idéia de corpo, desde que seja sempre uma presença". Mas, essa, não se pretende como definição; talvez funcione mais como uma ilustração do caso particular de solidão que se sente, a qual, realmnte, não é a solidão das multudões.
Quanto a existência ou não da solidão, admito esse tipo de questionamento como um questionamento de ordem metafísica, muito justo, inclusive, pois a solidão só existe como produto da consciência humana. E é justamente como esse tipo de produto real, que procurei sentí-la, como algo decorrente das relações reais de minha experiência. (A lágrima e a somatização de tudo isso são coisas extremamente reais.)

Viver, sempre, e se possível, não creditando.

(Se pans)

;-)

agosto 12, 2007 10:57 AM  

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