POEMA AO PRECIPÍCIO PRECIPITADO
Vi você se direcionando a um precipício
– segura de si, sem dúvida –
[e tive medo de seu inexorável salto.
Não tive raiva, não quis te impedir.
Apenas te segui com meus olhos de guarda
[e meus incompreensíveis e inexplicáveis,
[bobos talvez, e inofensivos pensamentos
[de um labrador zeloso e, talvez por isso, desprezível.
Te segui com meus olhos e meus pensamentos
[e meu corpo, feio e frágil.
Não tive raiva, não quis te impedir.
Tive medo, apenas.
O medo idiota de quem quer bem.
O medo idiota que, por inexplicável,
passa por qualquer coisa ruim, perniciosa.
O medo de quem não sabe expressar
o tamanho e a pureza das coisas.
Olhos de guarda
Pensamentos de labrador
Corpo de coisa qualquer.
A impávidos rochedos e vagas turbulentas
[na eterna iminência de algo maior,
saltaste.
E eu, sabedor da eterna iminência
[e receoso de seu desfecho
saltei também.
E apenas a te fazer companhia,
[cercado contigo por rochas e vagas,
eu, impotente feito fantasma invisível,
me vi sendo afastado por ti,
[impiedosa
num primeiro instante de assustada raiva.
E no segundo instante, susto passado,
razão recobrada, me acariciaste.
A mim, que desde o teu primeiro passo,
não ocorreram senão as melhores intenções
[e mais puras.
E se a história acaba aqui
[sem o dolorosíssimo quase-afogamento,
é por eu saber, de fato,
a medida das coisas belas
[Que não são questionáveis.
Algoz