Confraternização

(Na geladeira)

quinta-feira, março 29, 2007

Momento de (eterna) fúria

POEMA AO FIM

Mãe maldita eternamente prenha
de filhos eternamente estultos:
Pare, pelo deus a que obedeças,
de parí-los!

Humanidade eternamente adolescente:
Passa, passa logo,
E pára
[com suas imponentíssimas
[imbecilidades!


Algoz

terça-feira, março 27, 2007

Meus problemas acabaram...

Algumas coisas têm o poder de nos fazer divagar longamente acerca de assuntos indecifráveis. Sempre tive pulgas atrás de minhas orelhas quando, em ônibus, mesmo sentado em bancos não preferenciais, percebia parada ao meu lado alguma mulher bem servida de ventre. Um dilema constrangedor me assolava. Já faz algum tempo que não vivemos a era das gordinhas. Como oferecer a uma mulher – a uma mulher! – um assento preferencial, sem correr o risco de ela ser, com mais e sem menos, simplesmente gorda?!
Março de dois mil e sete, quinze pra meia-noite. Entro num ônibus. Sento com minha agradável e intelectual companhia num assento reservado... reservado pra gestantes, idosos, portadores de deficiências e de crianças de colo (há diferença?). Peraí... tem um desenho a mais nessa lista, parece uma bexiga com braços, pernas e cabeça. Seria um Pançotauro? Ah!, que bom seria se os seres mitológicos tivessem assento preferencial nos coletivos!
A questão: por quais compreensíveis motivos havemos de ter concedido aos obesos preferência equivalente àquela concedida previamente aos demais "beneficiados"?
A conclusão: meus problemas acabaram! Agora não haverá barriga capaz de me constranger.
E no caso de se estar num assento preferencial, basta apontar – bem à distância – pro adesivo na janela, e dizer, cavalheirescamente:
– Por favor, sente-se aqui...
Ou...
– Mas eu não estou grávida...
– Agora nem precisa mais, chuchu. Olha lá (apontando o adesivo)... Vai, fofa, senta aí... seus problemas acabaram...


Algoz

segunda-feira, março 26, 2007

mp3 de platina

é minha?
será realmente minha?

copiaram minha música da internet
mais de 150.000 cópias em um dia

ganhei mp3 de platina

rodrigo lima silva

quinta-feira, março 22, 2007

Desejando não estar

POEMA AO TERAPEUTA QUE NÃO HOUVE

Nessa terra de cegos
tinha dois olhos

Nesse tempo devorador
tinha pés descalços

Caos, insano caos
tinha paciência
Momento de intensidade
tinha silêncio
Discussão sem fundamento
tinha compreensão

Nessa hora desgraçada
tinha ternura

Nesse mundo de frágeis
[indissolúveis amarras
Tinha sentimento.

Era ninguém.
Jamenos agora.


Algoz

terça-feira, março 20, 2007

Mineral

Ninguém.
Jamais.

Porque o dia do desabamento do mundo dura o período de uma vida inteira.


Algoz

segunda-feira, março 19, 2007

Manifesto Inútil*

A manhã é cinza e chuvosa, mas não escrevo para fugir desse cenário. Escrevo por discordar de coisas muito comuns. Sou obrigado a suportar adultos infantis, que sem perceber, fazem tão mal ao mundo quanto o dióxido de carbono, ou pior, pois nação nenhuma nunca se sensibilizará em reverter tão triste situação. Sou obrigado a frequentar hospitais sozinho, coisa que alguma lei federal, estadual ou municipal deveria proibir! Nenhum enfermo poderia adentrar uma casa de saúde desprovido não só de uma companhia verdadeira, bem como de muito carinho. Onde estão os direitos humanos? E que pessoa realmente humana não preferiria estar a discutir amenidades, ao invés de reproduzir atividades praticamente inúteis, mas altamente necessárias à manutenção de alguma máquina finita e estúpida?
É preciso que se crie a consciência de que o mistério e a graça feminina, por exemplo, muito mais importam - por mais que nada disso se conclua, comercialize ou lucre - do que esse cotidiano radicalmente mesquinho, no qual formamos sociopatas, suicidas, e reproduzimos indiscriminadamente a imbecilidade. (Enquanto isso crianças lindas se divertem aprendendo o mundo, e nós, o que fazemos? Laboramos dignidade, desconhecendo o preço que se paga por isso...)
Em homenagem a um par de olhos e a todo resquício de vida e ternura escondidos nesse tumulto de coisas desnecessárias e tristes do nosso dia-a-dia, peço licença de mostrar minha inútil discordância.

Bruno*

sexta-feira, março 16, 2007

Praia*

Vai lá, rapaz
Depois da pedra da praia
O mar te espera
Fura a onda
E sente o cabelo molhado
Sente seu corpo na água
Depois volta e senta na areia
Sobe o morro e mira ilhas
O sol e o céu azul
Então sorri, rapaz
Não tem calor
Só a maresia é sua amiga
Agradece ao oceano mestre
Então desce, vê seus pés na areia
E se dispeça, meu rapaz
Volte sempre ao mar

Bruno* (B&B)

quinta-feira, março 15, 2007

Desejando estar numa praia

POEMA AO PRECIPÍCIO PRECIPITADO

Vi você se direcionando a um precipício
– segura de si, sem dúvida –
[e tive medo de seu inexorável salto.
Não tive raiva, não quis te impedir.
Apenas te segui com meus olhos de guarda
[e meus incompreensíveis e inexplicáveis,
[bobos talvez, e inofensivos pensamentos
[de um labrador zeloso e, talvez por isso, desprezível.
Te segui com meus olhos e meus pensamentos
[e meu corpo, feio e frágil.
Não tive raiva, não quis te impedir.
Tive medo, apenas.
O medo idiota de quem quer bem.
O medo idiota que, por inexplicável,
passa por qualquer coisa ruim, perniciosa.
O medo de quem não sabe expressar
o tamanho e a pureza das coisas.

Olhos de guarda
Pensamentos de labrador
Corpo de coisa qualquer.

A impávidos rochedos e vagas turbulentas
[na eterna iminência de algo maior,
saltaste.
E eu, sabedor da eterna iminência
[e receoso de seu desfecho
saltei também.

E apenas a te fazer companhia,
[cercado contigo por rochas e vagas,
eu, impotente feito fantasma invisível,
me vi sendo afastado por ti,
[impiedosa
num primeiro instante de assustada raiva.
E no segundo instante, susto passado,
razão recobrada, me acariciaste.
A mim, que desde o teu primeiro passo,
não ocorreram senão as melhores intenções
[e mais puras.

E se a história acaba aqui
[sem o dolorosíssimo quase-afogamento,
é por eu saber, de fato,
a medida das coisas belas
[Que não são questionáveis.


Algoz

terça-feira, março 13, 2007

Vegetal

O dia houve em que o mundo desabou sobre seus ombros, sob seus pés. A lassidão tomou conta de seu corpo e, mais e além, de sua mente. Tudo que pudesse ser considerado – ainda que minimamente – uma faísca de vida... perdeu sentido. Seus ávidos olhos, que antes projetavam as coisas com minutos de antecedência, e a muitos metros de distância, agora eram dois buracos preenchidos por matéria inútil... não tinham mais cor, brilho ou expressão... se enxergavam, era apenas por diferenciá-lo dos cegos. As trevas de tudo que não era físico o tinham tomado irreversivelmente. Continuou mantendo contato com os pouquíssimos e verdadeiros amigos que tinha, mas sempre mudo ou calado. Com seus pais e irmãos não era diferente. E com todos os outros familiares, ou só os cumprimentava, ou os ignorava por completo, chegando por vezes a até sair de casa quando alguns deles chegavam. Tentaram convencê-lo a fazer terapia. Em vão. Alguma vizinha beata o teria visitado e insinuado que seu problema seriam pendências com o divino. Dizem que depois desse dia nunca mais voltou. Ele teria soltado uma gargalhada horrenda, com seus olhos sem expressão, e seu corpo praticamente imóvel. A tal vizinha veio a falecer três meses depois. Foi apenas mais uma lenda criada em torno do quieto rapaz. Pouco mais de um ano fazia, quando certo dia dois casais de primos apareceram, com suas três lindas filhas. Duas de quatro anos, uma de dois e meio. Fazia quase dois anos que não via os tais primos. As meninas, então, apenas as reconhecia. Como tinham crescido! Pegou da mais nova no colo, sorriu profundamente pra ela e, com olhos marejados, disse:
– Oi, Princesa...
E depois de brincar por cerca de meia hora com a menina – mudo para todas as outras pessoas –, voltou a encarcerar-se em seu próprio universo, atrás daqueles olhos que voltaram a ser grades frias e intocáveis.

Ninguém jamais descobriu o que se passou no dia em que seu mundo desabou.


Algoz

segunda-feira, março 12, 2007

Segredo*

Eu queria te dizer
E bem baixinho eu disse
Qual segredo, impossível
Qual vergonha, indecente
Dois olhos úmidos
Num abraço tímido

Não queria te dizer
Nem pedir pra ficar
Qual um beijo, interminável
Qual sorriso, inesquecível
Não se espera mais
Nem se pode amar

Bruno* B&B (insatisfeito)

sábado, março 10, 2007

Despedida...

Me despeço em forma de humano de todos aqueles que não me crêem em essência.Digo que estou e sempre estarei com vocês mesmo que não me vejam como sou, ou mesmo que não me vejam.Estou agindo em todos pois foi para isso que vim; para ajudar.E o faço na forma de liberdade...


Siscão*

quinta-feira, março 08, 2007

É hoje?

POEMA AO DIA DA CHEGADA DO IMPERADOR

Agora Cunhambebe é morto.

Haverá alguém que acredite
[com berros pixações bigodes
ser capaz de devorar o Imperador?

Assunto chato.

***

No Dia Internacional
da Chegada do Imperador,
Cabe aos frouxos de espírito
[e às mentes preguiçosas,
o ocupar-se de comprar flores,
de mandar mensagens,
de dizer mentiras
[maiores e mais deslavadas
[que todas aquelas de todos os outros dias.

Haverá alguém quem acredite
[com flores cartões telefonemas
ser capaz de enganar a si mesmo?

Deus!, quanta coisa chata!

***

O mundo é cruel e besta.

Vem cá, minha flor, e me abraça.
Se não hoje, amanhã
[ou depois.
Vem no dia do radialista, no do gari,
No dia do aviador, da árvore,
Numa quinta-feira qualquer,
Na madrugada de uma segunda,
No dia do Dia D...

Mas vem despida de ganâncias
que não sejam meus carinhos.
É da minha natureza
um querer estar sozinho
[que me leva num estalo
[me trancando em meu mundinho.

Então vem quando eu te chamo
que quando chamo é pra queimar
toda a chama de um momento.
Esquecer qualquer sofrimento,
dançar uma canção de ninar.
E ninar sem dizer palavra,
sem se pré ocupar do dia seguinte,
sem sonhar sequer, que o sonho
[se estará realizando
[pela noite, acordada, velando
[nosso sono de suave encanto.


Algoz

terça-feira, março 06, 2007

Ao aprendizado do nada

Cheguei atrasado. Abri e fechei a porta com bastante cuidado. Oitenta ou noventa alunos acompanhavam aquela aula de História da... da... História de algum período. Sala cheia, fiquei no fundo mesmo. O calor não era pouco. Seis ventiladores faziam barulho. A professora, com sua voz em volume de velório, contava coisas que nem com leitura labial eu conseguia entender...:
– Depois da queda do Império ***, conseqüência da libidinagem excessiva (acho que ela disse libidinagem) de ***, que governou entre *** e ***, foi instaurado na região o sistema de ***, que ao invés de um, tinha três governantes, blá, blá, blá...
Começo a folhear o caderno em busca de informações inúteis que pudessem ser descartadas. Encontro várias. Mas o barulho da primeira folha sendo arrancada, ainda que com cuidado, me faz parar. Folheando, folheando...
– ... então a língua *** passou a ser utilizada nas relações comerciais, enquanto o *** ficou restrito apenas aos textos oficiais e religiosos...
Folheando, folheando... achei! Achei um texto que escrevi há tempos. Bacana, bacana...:
“Então viu...”
– ... que mais tarde culminou com a...
" ... e sorriu"
– ... então vamos ficar por aqui, por hoje...
O que aprendi? Nada.
Saio da aula, encontro dois amigos mais um, imprevisto.
Depois de duas horas numa fila cruel, necessária e produtiva porém, vamos almoçar. Comida boa. Depois, numa adega muito bacana, passamos mais de uma hora, batendo papo e bebendo. Saindo de lá, parada pra um caldo de cana. Dois litros de saborosíssimo açúcar direto na garganta. Sentados numa praça, esquecidos dos problemas e de obrigações, eu pensando: êta vida besta!


Algoz