Confraternização

(Na geladeira)

quinta-feira, agosto 16, 2007

Sem timentos

POEMA A UM SER VIVO EM FORMA DE ÁRVORE

Uma árvore da altura do quinto andar
Parada, desfolhada, indiferente.

Um cara caminha caminhando
Passa pela árvore e apenas
[ao passar por ela pensa
que por alguns segundos
[em nada, absolutamente,
pensou.
Teria tido um momento
[de iluminação?
Seria a iluminação um momento
[que passa exatamente
despercebido?

Não ter alegria nem tristeza
[frente a algo/alguém qualquer
E caminhar ao sol sem senti-lo
E o vento não perceber
E não se inquietar com a buzina
[que está longe demais
[pra se fazer escutar
E não reparar nas roupas
[de tantas pessoas diferentes
[que indiferentes passam
E cumprimentar, sem pensar
[ou dizer ou sequer um músculo
[mover
a árvore silente.

E ter a sossegada sensação
de os próprios sentimentos terem
[ainda que por um breve instante
passado
E depois sorrir – sem sorrir, porém
[de esse sossego ter sido como
[o de ter passado os sentimentos
pra outra pessoa qualquer,
ainda que ninguém haja.

Como quem acabou de se lavar e,
tendo a estrada do mundo
[pela frente,
senta-se no chão do próprio cômodo
[desacompanhado
E abre uma garrafa de vinho.


Algoz

2 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

O não-sentir é um momento bem interessante...

agosto 17, 2007 2:56 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Aposto que muitos pensam nisso:

"...em nada, absolutamente, pensou. Teria tido um momento de iluminação? Seria a iluminação um momento que passa exatamente despercebido?"

Mas só você consegue verbalizar.

agosto 29, 2007 9:04 PM  

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