Há momentos em que toda ânsia ocidental de tudo classificar, inevitavelmente, fracassa. Você, que impaciente lê este texto, provavelmente já experimentou a sublime sensação de achar algo tão extraordinário que nenhuma pretenciosa palavra seria capaz de abarcar a grandeza daquela experiência. Pode ser a visão de uma flor (um beijo em uma flor!), um reencontro, um sorriso, uma criança, um sapato novo, um lugar inusitado (viva ao inusitado!), a cumplicidade de um grande amigo...
Pois bem. Uns chamam isto de epifania, outros, de vislumbramento; esteja bem o que te parecer melhor. O que lhes digo, é que daquelas milhares de pessoas emanava algo de inominável, e ao estar ali presente naquele momento mágico e único, me batia uma felicidade pura, livre e impossível de qualquer tentativa de classificação, como que brotando naturalmente, surgindo a partir da total harmonia daquele pequeno universo.
Vivi isto no show do Pearl Jam. Embora possamos sentí-la diante das coisas mais banais, a música parece ser um meio especial através do qual se manifesta este tipo de experiência.
Um jornalista classificou o acontecimento como "uma catárse coletiva". Pareceu-me excelente a definição, mas eu estive lá, e prefiro pensar que "o que não pode ser dito, deve ser calado".
Hoje, me lembro daquele momento, e de outros, absolutamente epifânicos, e sinto-me bem.
Bruno*