Confraternização

(Na geladeira)

terça-feira, julho 22, 2008

O Galo Soprano*

O galo soprano é um enfeite. Uma honesta alegoria para coisas que não sei figurar bem; a moldura de quadros que pinto em devaneios cheios de teorias e intelecções.
Passo os dias a ouvir o cocorejar desse galo - tão curioso, peculiar, estreito e fininho. Fico intrigadíssimo, sem saber direito o que achar dele. Como transformá-lo num símbolo para a intrínseca ambição de poder que há nos homens? Conheço pessoas e aves de muitos cantos, e agora convivo com esse galo que se torna uma confusa alusão para a mesma necessidade de dominar (desejo e poder) as galinhas, que por serem galinhas necessariamente precisam de galos e ovos, e para a qual são inventados mil discursos e cantos diferentes, sendo que a intenção velada, ou anunciada, varia muito pouco: minhocas, pintinhos, terreno...
Chego a sorrir; acho alguma graça em talvez perceber tudo isso. Mas também me entristeço; afinal, é compreensível algum tédio por assistir sempre ao mesmo movimento (a eterna repetição). Não chego a discordar - no final das contas, tudo é muito natural e correto do jeito que é, e seria tola pretensão conceber algo além disso.
O que me resta é fazer desse galo soprano um rumo para qualquer prosa; quem sabe atribuir a seu canto alguma profundidade, algum leve tom de azul que inspire a reflexão e contemplação do cotidiano; torná-lo um pequeno brasão da solidariedade que tenho por qualquer pequeno sofrimento, até mesmo por aqueles que o vivem sem saber, sem reconhecê-lo, talvez por não terem à disposição um pequeno animal como esse, que grita em qualquer interior, na rotina imposta por si mesmos e que os consome em qualquer grande cidade, aonde moram muitos e distantes amigos; daí então esse canto seria simplesmente mais um canto de saudade.
Desculpo-me por gastar nosso precioso tempo com a historinha desse meu galo soprano, que não é uma historinha, mas lembra ingenuamente muitas delas. A vida é bem mais séria no seu diário, por mais leve que este seja, e não quero que meu galo se torne mais um modo leviano de encarar a realidade.


Bruno*

2 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Meu poeta , com certeza ,quando nos lembramos de galos, lebra -nos muitas , histórias, e claro e toda
turma do galinheiro,e cada qual no
seu cotidiano ,é filhinho,bom mesmo é observar a criação,não importando que" rumo ou qual" apenas observar,


mainha, meu poeta !!! ass:anônimo

julho 30, 2008 11:20 PM  
Blogger Fred - Grafiq disse...

olás.
me parece q vc "sentiu" de uma forma diferente, como se vc estivesse calmo e centrado. às vezes os fatos cotidianos e repetitivos como o viver de alguns animais, nos chamam atenção quando estamos "despertos" da nossa rotina. sabe q o budismo fala q nossa percepção das coisas mudam.
hhhheeee
ñ sei se viajei demais, mas me pareceu q o galo soprano ganhou volume na sua percepção apesar de ñ volume algum normalmente em sua vida.
muito loco.
acontece comigo umas viagens em coisas simples e, tbm, sinto necessidade de falar sobre isso.
sei lá...

abs

setembro 16, 2008 12:30 PM  

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