Idealismo e Infantilidade*
O idealista, ou em outros termos, o romântico, cumpre em boa parte essa necessidade referencial ou torna-se, como é bem comum, ele mesmo um herói, capaz de guiar seus fiéis seguidores diretamente ao Ideal que tem-se por valor absoluto.
Não obstante, ocorreu-me que essa aproximação entre o infantil e o Idealismo pode encontrar semelhanças com aquela fase no desenvolvimento da criança em que ela ainda não é capaz de distinguir a sua identidade do mundo exterior e tudo passa a ser uma extensão de si. Bem sabe-se, que é quando a criança faz essa distinção entre o "eu" e o "não-eu", ou exterioridade, que ela assume a posição de sujeito no mundo. Ora, não é característica essencial do sujeito reflexivo - absoluto, nos termos de Hegel - essa total fusão entre sujeito e mundo? Em que a exterioridade faz parte do "eu" ou está até mesma sujeita a ele, moldando-se de acordo com sua emoção, sua interioridade? Portanto, não é de todo absurdo reconhecer que, tanto no idealismo como na infância, sujeito e mundo, "eu" e "não-eu", real e ideal, formam um todo, se não único, intensamente interligados e dependentes, residindo nesse ponto em comum a possibilidade de aproximação dessas duas condutas psicológicas e valorativas.
Admitindo-se esta hipótese, não há necessariamente um desmerecimento da conduta romântica e idealista, mas há sim um questionamento sobre até que ponto ela deve ser tomada como basilar na vida adulta, onde é exigido um outro grau de complexidade na interação relacional/social, o que implicaria em estruturas desnecessariamente delicadas nos relacionamentos e na afetividade em geral.
Bruno*