Primeiramente, gostaria de situar historicamente o "
Amor" como conceito que surge como valor nas dependências do século XVII e XIX, época que aqui será considerada sem muito rigor como "Romantismo". Tal localização histórica se faz necessária a fim de restituir sua natureza finita e contextual, assim o livrando da impregnação de valor absoluto, natural e universal. Apenas como ilustração, basta lembrarmos o que representava a Honra na antiguidade clássica.
Também é importante que o leitor tenha sempre em mente a importância que os valores tem em nossa vida prática como guia, ainda que distante, de nossa conduta. Só assim essa reflexão ganha algum sentido, na medida em que influencia diretamente nosso modo de ver o mundo e nele agir.
Ao entendermos o
Amor como um conceito temos a vantagem de visualizar sua elaboração, arquitetura, proveniente dos diversos estímulos, sentimentos. E como pilar fundamental de sua estrutura encontramos a essência utópica da "
felicidade absoluta", "
completude". Basta para nós considerar a utopia como algo virtual, irrealizável empiricamente, quase sempre, um desejo. Assim, concluimos que o
Amor é um conceito idealizado e esculpido por um anseio extremamente criativo e agonizante de ter, ao menos em virtualidade, aquilo que era impossível de ser concretizado na realidade. A sua impossibilidade é justamente a razão de sua existência. De certa forma, o
Amor pode ser considerado um sonho, na medida em que é um cumprimento de desejo.
Uma das diversas possibilidades de refutação dessa tese seria os casos de "
amores bem sucedidos", e logo nos vem a imagem de um par de velinhos abraçados em uma varanda, como numa propaganda televisiva. No entanto, penso ser este um belo exemplo de
tolerância e
serenidade, e não de
Amor, sentimento necessariamente ambivalente. Uma espécie de apaziguamento do espírito querente, que encontra a máxima completude possível dentro de si mesmo e não no outro.
Não é difícil cogitarmos algumas hipóteses que expliquem, dentro dos limites desta proposta, a perpetuação deste valor. Entre outras razões, a criação de Ideais é bastante justificável como remediação para o "
Querer" do ser humano; a função de sonho tem pois aplicação incontestável. E o que dizer então do incrível uso do Amor como mais um intorpecente e objeto de consumo da sociedade moderna?
Para finalizar, gostaria de mais uma vez chamar a atenção a respeito da importância desse tipo reflexão crítica na formação de nossos valores, e principalmente, no exercício e prática cotidiana em busca de um estado de espírito que prime pela paz e autoconhecimento ao invés de comprar sem contestar ideais que nos iludem e levam ao sofrimento.
Bruno*