Confraternização

(Na geladeira)

quarta-feira, junho 11, 2008

Metáforas com bandeira vermelha

Quando já se nadou mais de mil metros em menos de meia hora, numa piscina semi-olímpica, e ouve-se, a cada toque na parede, um bem gritado “o descanso é pra lá!”, pode-se sem muito esforço pensar em transformar tal grito em lema de vida: uma motivação pra se continuar algo ou em algum caminho. Se o descanso é sempre pra lá, está-se sempre a batalhar.
Isso nos faz pensar…
…que quando se está a fazer alguma grande mudança, é comum que nos últimos dias antes do desfecho das coisas, ou mesmo – e ainda mais – nas últimas horas, se pense que o descanso, pra além de não ser uma opção, há de ser a recompensa por tantos e tamanhos esforços: e por tudo isso, as grandes mudanças podem nos ensinar: o descanso é pra lá.
Isso nos faz pensar…
…que a vida, esse eterno camaleão, mesmo quando se deixa reger por algum lema que a ela tentemos forçar, ainda assim pode nos mostrar muita ingratidão a esse tipo de obstinação: porque ela – faça-se a chuva no molhado! – é um mar profundo ao infinito, de que a maioria de nós não vê senão a linha d’água – quando vê. Salto na metáfora: quando levamos a vida sempre a buscar o descanso pra lá, e pra lá, e pra lá, estamos eventualmente a criar meios de nos afogarmos a nós próprios (porque ela mesma, a vida, nunca afoga: nem a nós nem a si mesma). Salto paralelo: quando levamos a vida a sempre e mais preparar grandes mudanças, e a cansar-nos preparando, e preparando, e preparando, estamos a fornir a possibilidade de uma frustrante (e cansativa e cansada) não-mudança, ou mesmo de uma eterna mudança que não saiba se livrar de passados – e de futuros, por que não? – que, pra além de eventualmente serem pesos mortos, ainda podem vir a nos fazer ter de livrar-nos de possibilidades mais importantes de nós, e de livrar-nos, e de livrar-nos.
Na piscina, como nos momentos decisivos de uma grande mudança, sim, o descanso é pra lá?... vá lá. Mas no mar, essa vida intangível e imprevisível, é preciso pensar… e saber-se vulnerável… e ser um bocadinho preguiçoso, às vezes… talvez.


Algoz

1 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

A tuguice lhe faz bem. A contar pela percepção de tamanha metáfora.

junho 12, 2008 6:23 PM  

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