Passarinho*
Muitos dos que lêem devem ter tido, quando criança, um relacionamento afetivo com árvore, se pendurando nos galhos - aos gritos das mães -, colhendo frutinhas, construindo casinhas e brinquedos. Acredito que minha geração seja provavelmente a última a contar com uma dessas histórias de árvore. E o mesmo acontece com as ruas de terra e com as brincadeiras em rua de terra, a pipa, o peão: jogos que não interessam mais a geração dos apartamentos e video-games.
O que não tive foi a oportunidade de caçar passarinhos. Não pela caça, obviamente, que é atividade muito maldosa, mas pelo prazer do contato com esses bichinhos encantadores, tê-los na palma da mão, conhecer suas variadíssimas espécies e cores e cantos. Não é a coisa mais bonitinha um passarinho andando, aos pulinhos?
Lembro do meu pai contando histórias de passarinho: investidas, negócios, cuidados. Um de seus maiores arrependimentos, segundo ele, era ter matado alguns passarinhos. Por isso, sempre que penso na palavra remorso me lembro de passarinhos. Aprendi a nunca permitir esse sentimento, e a ser bem quietinho, como quem espreita passarinho.
Já pensei em criar um calopsita em casa, mas o cativeiro é sempre uma judiação, e felizmente minha preguiça é sempre maior do que planos tão audázes. Já pensei também na hipótese de me tornar um passarinhologista, espécie de biólogo-fotógrafo amador, para estudar e saber tudo sobre passarinhos - idéia que, ao que tudo indica, terá o mesmo fim das outras.
Passarinhos são tão bonitinhos que dá até para conversar sobre eles sem ter a preocupação de dizer nada mais além de sua beleza; sem precisar fazer nenhuma consideração importante e séria sobre a vida. Só a palavra passarinho já é bonita: passarinho. Arte boa é assim, existe quase que naturalmente, um encanto em si, que surge sem a mão e a razão bruta do homem. Basta concentração e atenção para avistar uma, como a um passarinho. Com empenho e sorte, pode até ser que um atravesse a janela e entre em sua casa, pouse em sua cama, abra o seu livro favorito e repouse tranquílo - com todo o esplendor de sua plumagem à mostra -, cantando algumas levezas em palavras, como num belíssimo e epifânico vôo emoldurado por uma pintura que nasce diante de seus olhos emocionados.
Bruno*
O que não tive foi a oportunidade de caçar passarinhos. Não pela caça, obviamente, que é atividade muito maldosa, mas pelo prazer do contato com esses bichinhos encantadores, tê-los na palma da mão, conhecer suas variadíssimas espécies e cores e cantos. Não é a coisa mais bonitinha um passarinho andando, aos pulinhos?
Lembro do meu pai contando histórias de passarinho: investidas, negócios, cuidados. Um de seus maiores arrependimentos, segundo ele, era ter matado alguns passarinhos. Por isso, sempre que penso na palavra remorso me lembro de passarinhos. Aprendi a nunca permitir esse sentimento, e a ser bem quietinho, como quem espreita passarinho.
Já pensei em criar um calopsita em casa, mas o cativeiro é sempre uma judiação, e felizmente minha preguiça é sempre maior do que planos tão audázes. Já pensei também na hipótese de me tornar um passarinhologista, espécie de biólogo-fotógrafo amador, para estudar e saber tudo sobre passarinhos - idéia que, ao que tudo indica, terá o mesmo fim das outras.
Passarinhos são tão bonitinhos que dá até para conversar sobre eles sem ter a preocupação de dizer nada mais além de sua beleza; sem precisar fazer nenhuma consideração importante e séria sobre a vida. Só a palavra passarinho já é bonita: passarinho. Arte boa é assim, existe quase que naturalmente, um encanto em si, que surge sem a mão e a razão bruta do homem. Basta concentração e atenção para avistar uma, como a um passarinho. Com empenho e sorte, pode até ser que um atravesse a janela e entre em sua casa, pouse em sua cama, abra o seu livro favorito e repouse tranquílo - com todo o esplendor de sua plumagem à mostra -, cantando algumas levezas em palavras, como num belíssimo e epifânico vôo emoldurado por uma pintura que nasce diante de seus olhos emocionados.
Bruno*
4 Comments:
Zizuis!
1. Que bom que fazes o que eu não tenho - INFELIZMENTE! - conseguido fazer: dar um bocadinho de água, de quando em quando, pra esse passarinho hoje em dia tão quietinho que é o nosso blogue.
2. Essa aguinha que estás a dar tem o sabor fresco da terra, mesmo, e por isso é bom.
3. Eita passarinho bonitinho, sô!
4. Juro que me esforço pra, a qualquer momento, contribuir com essa vidinha por que tenho tanto carinho. Tem sido impossível, porém.
Saudades muitas
Lindíssimo.
Mano...sempre que penso em passarinho, me lembro de um poema, um dos melhores que eu já li:
Poema do Contra
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Mario Quintana
Quanto ao teu texto, muito lindo mesmo. Inspirado e simples...muito bem escrito.
Abraço!!!
perfeito.
sensível, cara.
senti uma calma muito grande lendo esse texto.
^^
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