Confraternização

(Na geladeira)

terça-feira, maio 13, 2008

Trânsito*

Em um jornal da manhã passava uma matéria sobre o trânsito de São Paulo – imagens aéreas, o mar de edifícios, frio, céu fechado. Senti tanta saudade. Sim, é absurdo ter afeto por uma coisa dessas, que só atrapalha a vida do cidadão citadino. Mas a distância permitiu a mim, cidadão longínquo, que sentisse um verdadeiro afeto pelo tráfego mais do que intenso daquelas ruas e lugares pelos quais um dia já estive eu, fatigado e triste por estar preso em congestionamentos, de pé, no ônibus, com outras centenas de pessoas me fazendo uma desconfortável companhia, ou assistindo pela janela – sempre sonolento – a correria do mundo lá fora, cinza e nublado, como muitas vezes estava o tempo do sujeito que olhava cansado do outro lado da janela.
Eu tomava café enquanto assistia ao programa, e sorria - aqueles lugares.
Café foi um gosto que aprendi com minha vó, mas que cultivei com empenho e seriedade em São Paulo. De manhã, no intervalo do almoço, de noite, para aguentar o trabalho e as aulas da faculdade; com chocolate ou cigarro. Bebida amável, e necessária.
Mas, além do café, o paulista também precisa de outras coisas. Pizza, por exemplo. Refeição do cotidiano, bem ajustada à cidade. Ruas. No meio de tão enormes proporções, falar de ruas, localizar-se, também faz parte da cultura de um paulistano. Torna-se um hábito, uma linguagem: subir a Teodoro, que é paralela com a Cardeal – a Capote e Oscar Freire cruzam a Cardeal –, passando pelas Clínicas, Dr. Arnaldo, (saudoso bairro de Pinheiros; bairro no qual desejei morar quando fosse adulto) chegando na Paulista – avenida cheia de vida, atarefada, muitos eventos –, ou seguindo pela Consolação, a Sé – imponente. São tantos caminhos... E trânsitos. A Marginal, Rebouças, Vergueiro, Francisco Morato, não faltam via crucis, das quais me lembro com essa saudade de um caiçara, emigrante litorâneo, que durante algum tempo foi acolhido com a violenta generosidade da tumultuada e apaixonante capital.


Bruno*