Confraternização

(Na geladeira)

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Última chamada?

Pensando o aeroporto como um dos grandes palcos da vida. Lá amores despedem-se e reencontram-se, conhecem-se e morrem antes de nascerem – numa troca de olhares firme e intensa ou numa cortesia de fila qualquer. Não desmerecendo as rodoviárias, ou mesmo os portos, ou qualquer outro [tipo de] lugar onde tais fissuras se passem. E em considerar neles, quão triste não é estar-se em um aeroporto esperando a chegada – ou o retorno – do amor... mas o amor não embarcou de onde deveria? No táxi, no ônibus, no carro que dava a destinatória carona, tardiamente – um intervalo de tempo antes de as coisas se definirem, ainda que a definição seja sempre uma incógnita reversível no momento seguinte –, tardiamente o amor se desdecide, faz um retorno... termina numa rodoviária, em outro bairro, em outra cidade, pega um cruzeiro qualquer e... não aparece nunca mais. E enquanto casais de amantes – de amigos, de irmãos – se abraçam naquela entrega sempre questionável do grande palco que é o aeroporto, queda-se a cogitar nos porquês de tudo: de estar-se só; de estar-se mal acompanhado; de estar-se – apesar de bem acompanhado – sentindo como que a falta de um membro do próprio corpo que está lá, grudado ao resto, mas não funciona. O amor não quis embarcar pra Paris com a promessa – crível mesmo pelo próprio amor – de café na cama e vista pra Torre? Por quê? – pergunta-se vendo sorrisos e carinhos aqui e ali às quase fartas. Mas não há porquê. O vôo tem de sair, e abandoná-lo não fará a espera transformar em realidade o desejo. O amor às vezes opta pela periferia do interior do sertão, quando oferecemos Paris. Mas Paris é apenas Paris. Nem todos a querem conhecer, nem todos a desejam. Pode ser por medo de imensa expectativa. Mas pode ser por verem em Botucatu a satisfação que nenhuma Torre lhes pode dar. Por quê? Não há porquê. Há apenas outros vôos.
E nenhuma prisão que nos impeça de desejar – sem esperar, por sanidade –, saboreando e sorrindo honestamente um bom vinho com vista pra Torre, que à porta batam.


Algoz

1 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Parabéns, Algoz

janeiro 16, 2008 9:15 AM  

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