Confraternização

(Na geladeira)

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Serenata*

Serenata. Palavra bonita. Sonora, sutil e musical; boa de se pronunciar: serenata. E além de designar a cantoria dos apaixonados, descobri recentemente que este também é o nome de um remédio, mais precisamente, de um anti-depressivo. Achei curioso, impossível não me perguntar o que faz um nome tão bonito em um remédio, ainda mais em um anti-depressivo. Que coisa. O que teria levado um químico, ou a empresa dona do fármaco, a dar-lhe justamente esse nome? Serenata. Terá sido um nome escolhido ao acaso? Duvido. Não só o acaso é algo muito discutível, como a sabedoria comercial de uma indústria de magnitudes globais, como a farmacêutica, nunca permitiria que um seu produto deixasse de receber um nome convenientemente lucrativo.
Minha hipótese, ingênua e fantasiosa, é a que este químico, ou por já ter sofrido de amores, ou por ser possuidor de um terrível sarcasmo, deu este nome ao anti-depressivo em alusão àquelas cantorias ao pé de janelas, querendo com isso insinuar que a depressão nada mais é do que o resultado de uma profunda e mortífera frustração emocional, que por sua vez, não passa de um amor mal-resolvido.
Químico espertinho, e maldoso, caçoando dos trovadores mal-sucedidos, sugerindo que seu remédio seja a música capaz de curar os loucos do coração.
Nem mesmo Machado, por incrível que pareça, foi tão irônico, e chamou seu ambicionado anti-depressivo, cura para o melancólico vazio universal, simplesmente, de Emplasto Brás-Cubas.
É uma hipótese. Mas, de uma coisa podemos ter certeza: a medicina avança não só na cura dos males da alma e do coração, mas também na escolha do nome que dá aos seus produtos, pois confesso que entre um anti-depressivo chamado Emplasto Brás-Cubas e outro chamado Serenata, eu certamente escolheria o segundo: Serenata!

Bruno*

1 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Bruno,

Mais uma vez você escreveu um excelente texto. Concordo contigo; com certeza não foi um nome escolhido ao acaso, tem a intenção de fazer menção a uma bela serenata e ao sentimento produzido ao ouvi-la.

É muito bom quando percebemos nossos amigos adquirindo conhecimento nas áreas que escolheram e sendo capazes de fazer paralelos com situações do cotidiano, pois, na verdade, o conhecimento serve exatamente para isto: ter aplicações práticas.

Um literato é capaz de observar o cotidiano com olhos poéticos e críticos, tais observações fazem com que perceba o uso que a humanidade faz da linguagem e que tipo de objetivos tem ao utilizá-la.

Gostei muito.

Abraço.

Adriano.

dezembro 27, 2007 11:51 PM  

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