Confraternização

(Na geladeira)

quinta-feira, abril 19, 2007

Fundamentos Para Uma Ciência Psico-Simbológica*

.
TEORIA

A psico-simbologia como disciplina científica, no presente momento, ainda se encontra em vias de uma formulação consistente para que ocupe, enfim, a devida posição de destaque em meio às diversas abordagens do espírito humano que compõem as ciências humanas.
Sua origem, como percepção, nos remete à própria origem do homem como sujeito cultural, pertencente a uma vida essencialmente simbólica. Ou seja, a percepção psico-simbológica é característica da humanidade do homem. Mas é na antiguidade clássica – como não poderia deixar de ser – que sua prática encontra certa especialização e importância social. Eram chamados de fisionomistas aqueles que possuíam a técnica capaz de traçar um perfil psicológico do outro através, e tão somente, de seus aspectos físicos. Estatura, peso, postura, modo de andar, gestos e trejeitos. Toda forma de significação externa era suficiente para que se construísse uma imagem (ethos) segura e consistente do outro, ainda que prescindisse de um conhecimento pessoal, à base de uma convivência de fato.
Portanto, é preciso um conhecimento do conjunto de valores clássicos, como o belo e o bom, para que se possa tangenciar as implicações dessa conduta, como o sentimento de empatia e o carisma.

Na era cristã, considerada um juízo de valor, a percepção psico-simbológica sofre repressão ética e social, pois é exclusividade das instâncias religiosas, detentoras da verdade divina, fazer o julgamento do que é, e como age – ou deveria agir – o outro.
Nos dias de hoje, essa leitura ainda continua, mas somada à psicologia moderna que atenua essa postura valorativa – embora, na prática, aquela continue imperativa – e a conduz novamente ao seu posto de necessidade e resposta natural à alteridade. Há pesquisas recentes que mostram a importância desse, que pode ser considerado um verdadeiro instinto, na construção das redes sociais e afetivas.


OBJETO E MÉTODO

Como vimos acima, o objeto de estudo da psico-simbologia é a compreensão de como o outro é entendido por nós; a construção do outro a partir de nossa percepção. Pois já é mais que tempo de incorporarmos de fato a impossibilidade, exaustivamente demonstrada pelo pensamento moderno e ressegurada contemporaneamente, de se chegar ao outro; o eu é o limite. Nada mais digno então, do que deixar de lado pretensões sobre-humanas de se conhecer as pessoas e aceitar o perspectivismo inerente a nós, passando a evidenciar a relação e a percepção em si.
Até aqui, nenhuma novidade. Outras ciências o fazem; a psicologia e suas variantes nos são conhecidas já há algum tempo. O estabelecimento da psico-simbologia como disciplina autônoma depende necessariamente de algumas posturas a serem adotadas. A primeira delas é a falta de seriedade. Devemos rir de nossa audácia em tentar definir as outras pessoas nos baseando no que elas aparentam. O que parecemos ser não é necessariamente o que somos de fato. E não se é um, senão vários. A unidade de personalidade que pensamos ter é na verdade a intersecção dos vários eus. Assim, todo o humor e irônia são muito bem vindos para que não acreditemos piamente nesse impulso ancestral. É preciso, em última instância, que se ignore o que as impressões nos dizem – preservando a intuição, que é a forma de percepção primeira –, afinal, quantas vezes elas não são desfeitas? Até mesmo em longos relacionamentos não é raro que se descubra uma pessoa totalmente desconhecida. Zombemos do charlatanismo que explica, mística ou racionalmente, o caráter das pessoas. Só a experiência, o convívio, é capaz de nos proporcionar, minimamente, esse conhecimento. Teorias pessoais como essa que mistura discurso pseudocientífico, psicologia amadora, simbolismos óbvios e achismos de toda ordem, acabam por camuflar e potencializar estigmas, preconceitos, interpretações equivocadas e outras tantas coisas desnecessárias.

Bruno*

1 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Enquanto texto "não-literário", gênero: chute no pâncreas.

abril 19, 2007 1:05 PM  

Postar um comentário

<< Home