Confraternização

(Na geladeira)

terça-feira, abril 03, 2007

O barulho que o silêncio (não) faz

Alguém disse que o silêncio faz um barulho que incomoda. Faz, de fato. Faz um puta barulho. Faz barulho o silêncio de uma carta não respondida. Faz barulho o silêncio da boa nova recebida com a indiferença do amor mal direcionado. Faz barulho o silêncio da impotência, e mais barulho ainda faz o silêncio da consciência da impotência. E como é barulhento o silêncio socialmente forçado das vontades atrozes que nos acometem de trucidar certas pessoas em certas situações. Barulhento e borbulhento. Faz barulho o silêncio da resposta não dada à ironia provocadora. Mas esse silêncio faz um barulho que incomoda menos a quem o faz. Ou antes deveria. O silêncio da intolerância. O silêncio engolido a seco do zelo que não quer ser mal visto. O silêncio do amor reciprocamente amado mas que, não se podendo concretizar, fica para todo o sempre sendo velado vivo, em eterno, profundo, e incômodo silêncio.

***

Ali, naquela pedra no canto da praia, estávamos sentados. A tarde caía, e parecia que lentamente. As tardes sempre caem na mesma velocidade, de acordo com as respectivas estações. Mas às vezes temos essas impressões da natureza agindo em prol de nossas sensações. A tarde caía. No céu, poucas nuvens. Barulho de vento, barulho do mar. Ombros encostados, olhávamos. Alguém perguntaria se olhávamos na mesma direção. E pra quê?! Olhávamos aquilo tudo: céu, mar, horizonte, pássaros talvez. O mais importante é que fazíamos silêncio. O silêncio sempre bem vindo das coisas agradáveis vividas com pessoas agradáveis. O silêncio... do universo?
Porque há o silêncio da experiência, o silêncio de quem está com a razão, o silêncio de quem tem palavra. O silêncio da sabedoria. Esses só incomodam aos estultos.
Essa cena da praia jamais aconteceu. Mas a idéia dela me faz silencioso, me faz bem. Um bem um tanto tristonho, mas silencioso como um sorriso de Gandhi.


Algoz

2 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Como diria um amigo meu: brutal!!! Gosto quando você dá esses tapas na nossa cara.
Achei especialmente interessante a repetição, que dá muita intensidade à coisa toda; e da divisão dos dois silêncios, contraponto interessantíssimo!
Muito profundo.

Bessos.
Hermano.

abril 04, 2007 3:33 PM  
Anonymous Anônimo disse...

"O silêncio do amor reciprocamente amado mas que, não se podendo concretizar, fica para todo o sempre sendo velado vivo, em eterno, profundo, e incômodo silêncio." Nossa! que dolorido....
Que vontade de ficar no silência sem esse barulho do computador ligado. Mais uma justificativa para não gostar muito de ler os textos aqui. Não há silêncio... Há sempre um "zuuuummmmm" constante que muitas vezes confunde, desconcentra.

abril 19, 2007 9:30 PM  

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