Confraternização

(Na geladeira)

quarta-feira, abril 02, 2008

Paradigmas

Há perguntas que não devem ser feitas.
Quando o trabalho esgota um cidadão, e ele chega mesmo a se sonhar escalpelando e comendo ratos crus, a manhã seguinte o põe de volta ao trabalho com a cara de quem escalpelou e comeu ratos crus. Então vai um seu colega e pede – por vezes inocente – por alguma palavra acerca do que se passa. Se o cidadão narra – de preferência com detalhes sórdidos – o ocorrido, é plausível que ao outro o estômago se embrulhe, e que a mente se melindre. Se três dias depois o cidadão aparece sorrindo as orelhas, vem o colega se redimir – para si mesmo – com uma pergunta cuja resposta será obviamente boa. Mas o que é, de fato, pra cada um, bom? Vai o cidadão e começa a narrar... que a mulher flertou consigo, chamou uma amiga, e de repente ele estava acorrentado, lambendo... Chega! Lá vai o colega de novo pro banheiro.
Como temos estômago fraco, em geral. Não sabemos que o mundo é vasto, não sabemos que o amor é droga, não sabemos da inutilidade das paixões, não sabemos ser mais importantes do que a televisão que assistimos. Não sabemos perguntar, nem sabemos ouvir certas respostas. Não sabemos enxergar. E nisso tantos de nós fomos crucificados, tantos de nós fomos enforcados, tantos de nós fomos guilhotinados, tantos de nós fomos queimados, tantos de nós fomos apartados, tantos de nós fomos violentados, tantos de nós fomos fuzilados, tantos de nós fomos jogados nas valas comuns e nos cemitérios clandestinos da História. Porque não sabemos senão reproduzir discursos cegos e surdos de outros que eram ainda mais cegos e surdos do que nós.


Algoz

1 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Eu tinha certeza de que conseguiria...
Sim...não sabemos de muitas coisas...Mas precisa? será que não podemos apenas ser? Talvez...(Súcubo)

abril 03, 2008 1:29 AM  

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