Confraternização

(Na geladeira)

quarta-feira, setembro 12, 2007

Terça-feira

Era o último ônibus de uma terça-feira qualquer. E tendo eu entrado no coletivo em um dos primeiros pontos, era o único passageiro ainda. Pensava nos afazeres atrasados e nas desfeitas sempre pontuais que de tanto acontecerem hão de ainda um dia me fazer crer ter qualquer coisa aprendido. O motorista, tão homérica ou biblicamente heróico quanto eu, confessava ao cobrador sentado no primeiro assento seus grandiosos feitos quotidianos. Tinha uma filha que, sendo desrespeitosa para com os pais, tinha um marido desrespeitoso para consigo mesma. O pai nosso simpático motorista a havia alertado no sentido de conhecer melhor a pessoa com quem haveria de dividir as amenidades da vida. Em vão. Certa feita aparentemente recente , havia sido obrigado palavras dele a castigar a pobre-diaba com uma cintada. E agora se sentia mal com toda aquela delicada situação que se instaurava em seu delicado quase-lar. Mas a cintada havia sido merecida, e nisso ia o mundo a girar eu pensando no desamor, nas bobagens que todos optamos por fazer, na insignificância de tudo e de todos. E o motorista se transformou pra mim num corpo que gesticulava e falava sem emitir som que pelos meus ouvidos entrassem.
Descendo do já segundo ônibus, a quarta-feira dos homens comendo silenciosa e deserta a minha terça que não acabaria tão cedo , dois skatistas conversavam ao lado da pista. Um dizia ao outro que a realidade não era apenas o namoro, por isso mais isso mais aquilo, blá blá blá. Continuei meu caminho. Já de longe ouvi duas garaglhadas, uma alta e outra menos. Pensei: Devem ter chegado à conclusão última de qualquer filosofia: as deliciosas obscenidades da vida.
Chegando em casa fiz um telefonema, jantei um quase café da manhã a madrugada engolia as pálpebras da terça-feira de meus olhos , tomei uma coisinha qualquer... e dormi.


Algoz

1 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

O cronista nunca descansa.
Prosa elegante.

setembro 13, 2007 5:37 PM  

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