Confraternização

(Na geladeira)

terça-feira, junho 12, 2007

Dias sem sentido

Era uma segunda-feira. Fazia exatas duas semanas que eu nada sabia da pessoa que mais queria saber. Em certos momentos é preciso saber muitos ditados, pra suportar a vida. Passeava com uma amiga e um seu conhecido vindo de Londres. Fomos ao centro da cidade, ele queria comprar um chapéu. Eu estava com a cabeça em outras paragens, então dava passos incertos, perdido num lugar conhecido, dando voltas inúteis pra chegar ao outro lado de uma rua, subindo escadas quando já estávamos no piso certo de uma estação do metrô, querendo voltar pra lugares de onde não tínhamos vindo, e cometendo as mesmas dislogias, uma, duas, três vezes...
No dia anterior conversávamos sobre livros e solidão, relacionamentos e viagens. Ele contava que tinha se resolvido a ficar viajando pela américa esquecida, por três ou quatro meses, por causa de um relacionamento morto aos quase três anos de existência. Eu pensava com meus botões que nós, brasileiros, somos na grande maioria realmente uns fodidos e mal pagos. Não podemos espairecer nossas desilusões viajando ao Reino Unido, por exemplo. E por três meses? Quatro? É de chorar.
Mas então, no dia seguinte – a tal segunda-feira – lá estávamos passeando pela cidade, eu pensando. Em coisas fora de lugar e de tempo. Voltávamos, já, quando entra no vagão um casal aparentemente muito satisfeito e ainda sonhador, o rapaz e a moça cada um com seus mais ou menos cinqüenta anos. Abraçadinhos, cheios de chamegos e beijinhos. Nós três sentados naquele cantinho recluso ao lado da cabine, o casal chegou e parou na nossa frente. Começaram a conversar no mais britânico inglês, pro pasmo geral de nós três. Emudecemos, cada um por seu próprio motivo, nunca depois discutido.
Fiquei pensando naquele casal, e na possibilidade – sempre real, apesar de improvável – de eles serem londrinos, como nosso conviva, e quiçá morarem os três no mesmo bairro, na mesma rua, no mesmo quarteirão e, ainda assim, nunca terem sequer se visto. E nesse momento pensei que o mundo é tão grande e tão pequeno ao mesmo tempo, que pensar sobre isso faz uma melancolia desgraçada. Porque encontramos e conhecemos sem qualquer lógica pessoas tão distantes, e temos vizinhos que nunca encontraremos. Pensei no amor. Naquela pessoa que não sabia nada de mim pelas últimas duas semanas, e as passou sem se importar com isso, por não ser vizinha desse pobre-diabo que é tão vizinho dela.
Por vezes o amor parece não ter vizinho algum, aqui ou no Reino Unido ou em qualquer Grécia dos Tempos. E a casa – desse amor sem vizinho – toda geminada a outra que, talvez, não seja tão geminada assim a ela. E futuro nenhum dará conta disso.


Algoz

3 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Zizus!
Estou ficando com medo de você. Sua linguagem está cada vez mais precisa, e a força de suas crônicas cada vez mais constante.

Obrigado.

Abraço!

(E viva ao dia dos namorados...)

junho 12, 2007 6:53 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Abusado!

junho 13, 2007 1:16 PM  
Anonymous Anônimo disse...

é...aquele casal foi mesmo perturbador e é mais ainda ver a descrição tão perfeita da nossa tarde !
beijoca
Pri

junho 14, 2007 9:35 PM  

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