Confraternização

(Na geladeira)

terça-feira, dezembro 05, 2006

Terapia da Ambivalência*

Durante muito tempo pensei que a contradição fosse uma condição humana, e sofri na pele as conseqüências de viver submetido a este fardo. Hoje penso que não é a contradição a condição humana, mas sim a existência dos opostos. Os opostos não precisam ser necessariamente uma contraposição, podem simplesmente coexistir e até mesmo complementarem-se. O nome que se dá a essa possibilidade é ambivalência. A existência de extremos opostos num único caminho; o paradoxo possível e aceitável.
Não é difícil compreender porque esse princípio é inato à tentativa de entender o mundo. Basta esboçar o entendimento deste para que surja imediatamente a natureza distinta e oposta de todas as coisas: o claro e o escuro, o homem e a mulher, a verdade e a mentira, o bonito e o feio, o bem e o mal. Tudo parece se definir por uma oposição básica e essencial.
Essa condição talvez exista desde sempre, e encontramo-na cristalizada nas principais “explicações de mundo”. Na antiguidade clássica, embrião de nossa cultura, está formulada no princípio Aristotélico da “não-contradição”. Na era cristã esse princípio fundamenta, à custa de certo terror, a norma moral e social, pois é quando tudo acontecer ao contrário que o homem se verá diante do fim dos tempos.
Cabe a nós reconhecer o quanto esta condição determina nossas vidas, para que possamos sublimá-la, simplesmente tomando ciência de que pertencemos a uma outra era, posterior ao reino da contradição sobre a alma dos homens, na qual o princípio da ambivalência, coerente ao nosso tempo, pode proporcionar um entendimento muito mais ameno do fenômeno da vida e de nossa interioridade, pois não contrapõe a natureza dual das coisas, concilia. Não é preciso mais que entremos em conflito por sentir isso ou aquilo, por ter de escolher entre uma ou outra coisa, por sermos deste ou daquele jeito. Somos todas as diferentes e opostas características de nós mesmos, sentimos ódio e benevolência, tudo ao mesmo tempo, do mesmo modo que as pessoas nos fazem bem e mal, do mesmo modo que nascemos e morremos.
Se incorporarmos essa nova relação harmônica entre os opostos, admitindo que uma coisa ou alguém, não é isto ou aquilo, mas sim, isto e aquilo, talvez consigamos restaurar a tranqüilidade que nos falta quando pensamos, sentimos e vivemos em contradição.

Bruno*

2 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

cunhado...

pelo que já falamos, vou tentar sintetizar meus comentários:

é válido, muito mesmo, o pensamento baseado na ambivalência. Os que sabem se valer dela, me parecem deter a visão mais próxima da nossa natureza do que realmente aceitamos.
Eu, como vc percebeu nos meus versinhos, ainda coloco essa caracteristica na minha fila de vaidades. Quem sabe ela possa passar... e se não passar, que não seja um fracasso.

;)

enfim, belo texto.

dezembro 05, 2006 3:05 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Olá.
Belo texto mesmo. O grande lance é colocarmos isso q vc disse em prática. Talvez a gente já nasça sabendo das ambivalências, mas insistimos em não aceitá-las ou enxergá-las. Sei lá.
Na realidade eu acredito q há ambivalência e dualidade, dependendo do sentido q isso tem pra cada um.

Mas concordo com vc, esse passo nos dá uma liberdade gostosa, mas tomando cuidado para não cairmos no fatalismo da aceitação de tudo como está.

^^

abs

dezembro 06, 2006 3:11 PM  

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