Confraternização

(Na geladeira)

sábado, maio 24, 2008

Cebolas*

Para tudo o que se faça, arroz, feijão, molho ou mistura: cebola, bastante cebola, bem picadinha - o cheiro de cebola na mão, esse tipo de dignidade pertencente aos trabalhos do lar - e alho, outra maravilha. (Se deus cozinha, com certeza usa muita cebola e alho, disso tenho certeza: são temperos de deus.) E então, fritando na frigideira, aquele cheiro bom subindo, aquele douradinho... E então a gente vai cozinhando, prepara o arroz - colorido, com cenoura e vagem ou pimentão, em cubinhos -, a salada de alface e tomate, com sal e limão.
Cozinhar não é uma ciência exata, sempre soube; tudo pode acontecer, desandar, se perder. É preciso muita atenção, quem é prendado sabe. Por isso é bom ter cuidado com o estado de ânimo com o qual se cozinha. Muita paixão pode adoçar ou salgar demais. Pouca paixão pode insossar tudo. Bom mesmo é a medida das coisas: cozinhar por estar sozinho e dispor de tempo para si, por ter qualquer tranquilidade nessa vida de pequenos tumultos, por sentir saudade, e imaginar que se cozinha um banquete para amigos, ou um jantar para a doce companhia de uma formosa moça que se espera: temperos, sabores, como um necessário toque de orégano.
Pois eu falava de cebolas e assim concluo: que as lágrimas sejam dignas; que sejam de saudade ou de cebolas, mas que o aroma delas desperte algum prazer em nossa memória - no paladar de nossa imaginação.


Bruno*

1 Comments:

Blogger Unknown disse...

Hoje eu comi cebola #)

maio 24, 2008 4:44 PM  

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