Confraternização

(Na geladeira)

terça-feira, novembro 06, 2007

Amor

Primeiro dia da semana. Um dia depois de um feriado divertido, passado com pessoas importantes, pessoas bonitas, amigas. Vou para o trabalho, normal, e passo metade do meu expediente como qualquer outro dia. Mas, saio mais cedo para resolver assistências. Pego um ônibus, Ana Rosa, para fazer integração com o Rio Pequeno, que passa perto da pensão onde eu durmo. Antes de entrar, confiro a hora naquele meu celular para saber se tenho tempo para deixar minhas coisas na pensão e trocar de roupa. Tinha tempo de sobra. Entrei e nem sentei. Fiquei apenas 5 minutos, ou até menos, dentro do ônibus. Desceram mais algumas pessoas comigo na Doutor Arnaldo, de onde eu iria para a Cardeal Arcoverde, pegar o Rio Pequeno. Coloco a mão no bolso para olhar as horas, mas aquele celular já não estava mais lá. Olho para o chão, poderia ter caído. Nada. Aliás, bem improvável que tenha caído. Roubaram, é o mais certo. Eu não vi nada. O celular sumiu. Em menos de um instante, sumiu. Não posso nem medir o quanto demorou para que, para mim, ele sumisse. Menos que um instante. Não demorou tempo algum. Sumiu sem tempo. Senti a efemeridade. As coisas são efêmeras. A nós, a tarefa de fazê-las durar o máximo possível. Isso não é burrice. Fazer com que as coisas durem o máximo que a gente puder não é burrice. É uma espécie de amor. Amor é algo bom. A gente pode desfrutar das coisas, basta a nossa vontade. E não me importa no que se baseia essa nossa vontade. Deixe a vontade acontecer. Não dói. Dói, sim, a gente fazer as coisas que não são da nossa vontade. Não que a gente sempre faça aquilo que quer. Não. Isso é impossível, e até pouco saudável. Apenas fazer aquilo que achamos bom, mesmo sendo ruim. Bom de um jeito, ruim de outro. As coisas são assim. Ganha-se de um jeito, perde-se de outro. A balança. Gostava daquele celular. Coisas divertidas estavam agregadas a ele. Mas, passou o seu tempo. Tem outros por aí. Essa é a diferença entre coisas como aquele celular e coisas que amamos. Celulares, tem outros praticamente iguais. As coisas que amamos são únicas. Por isso lutamos por elas, por isso, todos os dias, acordamos e amamos novamente essas coisas. Todos os dias, um novo amor pela mesma coisa. Uma nova luta para que esteja sempre conosco. Isso é amor, também. Amor é lutar contra a efemeridade das coisas únicas.

Rodrigo de Lima Silva

3 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Também em meu novo blog.

novembro 07, 2007 11:44 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Embora muitas vezes este sentimento possa ser compreendido e vivenciado como apego às coisas que não são permamentes ou imperecíveis também podemos compreendê-lo como a sublime aceitação da efemeridade das coisas, qualidade este que as torna tão únicas e especiais, sendo assim, muito dignas de ser amadas, dentro de uma saudável relação sentimental. Algo como "Que seja eterno enquanto dure" ou "Carpe Diem".

Bonito, sensível, autobiográfico, profundo.

Volto a comentar neste blog após muito tempo.

Fica bem! Clareza em suas decisões.

Abraço,

Adriano.

novembro 07, 2007 2:28 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Bonito.
E o comentário do Adriano deu conta perfeitamente do que eu achei do texto.

Hasta.

novembro 07, 2007 3:20 PM  

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