Confraternização

(Na geladeira)

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Fotografia

Nunca fiquei atônito pelas aparições da Coca-Cola
Em minhas fotografias festivas
Em meus vivas!

Não me surpreendo com as investidas corporativas
Nos cantos dos retratos
Nos momentos gostosos de minha vida

A Sony, A Pepsi, O Pão de Açucar
O Corinthians, A Ambev, O Pão Pullman
A Samsung, O Itaú, sem falar nas camisetas e bermudas...
Ou na Al Qaeda, PCC, Esses Outdoors nas ruas...

Entre tantas etnias, raças e espécies institucionais
Nem cabe aqui rimar seus nomes mais
Feito suas presenças onipresentes
Em nossos dias tão orgulhosos de atuais

Preferiria ter aparições metafísicas,
Sinais extraterrestres ou borrões angelicais,
Vultos nos cantos de minhas fotografias
Além dos tios e tias, dos amigos e pais

Talvez algumas escritas misteriosamente inscritas
Na revelação das fotos da família
Algum sinal de Deus na nossa policromia

Melhor o mistério que nos acanhe
Que os desmistérios com etiqueta de preço que nos desmistificam

Que bom seria
Pegar uma foto junto ao bolo de aniversário
Ou à revelia
E pegar-nos límpidos, com as marcas
E rostos em logomarcas de nossas alegrias

Fred - 22/12/2006
Coleção Supramulti

5 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Eu, comentarista assíduo que sou desse blog, nem sei o que falar. Fico meio perplexo, maravilhado, extasiado, não sei bem, diante de um texto tão magnífico! De um olhar híper perspicaz e uma sensibilidade absurda; que até rima, mas nem precisava!
Eu, pretenso-crítico que sou desse blog, nunca chamei um texto meu de poema; acho que o que confere esse título a um texto é sua grandeza, sua intensidade, que vem não sei bem de onde, mas nos comove profundamente. E digo: isso é um poema, minha gente! Um poema e tanto!
Parabéns, Fredão!

Grande abraço!

janeiro 05, 2007 3:44 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Ueba.
Muito obrigado pelos elogios. q bom q gostaram.
para quem não sabe, estou afastado por problemas espirituais... rrrrssss
quanto ao texto ele não tem mistério. surgiu da observação de como nossos objetos de maior valor sentimental, fotos antigas, filmes e etc que lembre momentos bacanas são impregnados de propagandas e corporações. refiro-me à vida urbana, mas mesmo em locais mais afastados corremos esse risco. ñ seria perspicaz nos afastarmos das urbanidades de vez em quando???
sei lá... fica a reflexão!

foi um parto escrever, mas espero ter deixado bons fluidos.

valews.

FELIZES 2007s

^^

abs

janeiro 05, 2007 4:08 PM  
Anonymous Anônimo disse...

esse Fred...

lindo texto, não sei bem, mas acho que é o emprego das palavras que parece brincar com o que se vem à mente (imediatamente!!). esse é um ponto.

e sabe que, pensando nas minhas fotografias, referindo-me ao meu umbigo, eu tento tirar essa coisa propagandista urbanizada das fotos, na medida do possível. fiquei feliz por mim, através do Seu texto. mais outro motivo pra eu gostar dele.

além disso, tenho mais empatia ainda em função da minha revolta contra o fato de que, a cada dia fielmente as pessoas colocam seus auto-retratos que nada dizem e propagam por aí uma espécie de culto da sua própria marca, quando ela nào existe, é subproduto de uma vaidade ridícula e desnecessária. O texto pode não tratar disso diretamente, mas penso que esse auto-culto é diretamente ligado ao culto de marcas, produto também da urbanização: as pessoas querem ser uma marca.

falei demais! riam da apaixonada e delirante revolta minha... mas ela saiu como uma bala disparada de um revólver. e o gatilho foi esse texto.
obrigada pela sua sagacidade Fred.

janeiro 05, 2007 4:39 PM  
Blogger Rubens Loureiro disse...

"subproduto de uma vaidade ridícula e desnecessária"... Faço minhas as palavras da Silvia, e outras tantas do Bité... Não tanto pela falta de palavras melhores, nem por falta de opinião... Mas acho q pessoa como nós, que vivem talvez mais de perto esse mundo orgulhoso de ser atual, e dividem a mesma tristeza tediosa (porém construtiva) em ver tudo isso caminhando pra lugar nenhum, acabam mesmo por ver suas idéias confluindo pro mesmo lugar: esse desejo de ter por perto, ou mesmo na gente, um quê de espera de algum sinal que realmente nos mostre algo além de certas auto-propagandas e de simples imagens, ao invés de paisagens vitais.

Parabéns pelo texto!

janeiro 05, 2007 4:55 PM  
Anonymous Anônimo disse...

É, Fred... (e em retorno-agradecimento ao seu comentário ao meu primeiro texto)
Belo texto. Simples quando complexo, complexo quando simples.
Valeu.

janeiro 05, 2007 5:32 PM  

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