Confraternização

(Na geladeira)

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Até*

Até quando não se sabe quando é
Sabe o peito - que não sabe -
Se fica ou se vai lá
Nem se quando vai voltar
Nem se o peito o que quer
E se volta quando é
Que vai saber se até
Quando volta ainda me quer

Bruno* (B&B)

3 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Esboço de auto-análise:

Confuso, não? Sim, bastante confuso. E temos nessa sensação nosso ponto de partida; talvez os fios do texto se amarrem em toda essa confusão.
É um trava língua, que trava o entendimento ante uma sintaxe embaralhada e um conteúdo que se capta em fragmentos. Então, vejamos os fragmentos:

"Até quando não se sabe quando é", acho que esse verso é fácil de entender: não dá pra saber do que há por vir, das coisas que ainda não aconteceram, do futuro, como também não se pode prever o quanto uma coisa vai durar. Tudo certo até aqui? Prossigamos.

"Sabe o peito - que não sabe -", o que seria uma sabedoria do (peito)coração? O que se não o seu próprio funcionamento? Assim como a angústia no peito não sabe da angústia no peito; as coisas são as coisas e não a explicação delas; portanto, nesse verso nota-se a presença e a consciência dessas duas possibilidades, de tentar entender o que se passa, e ao mesmo tempo, sentir a sensação.

"Se fica ou se vai lá", pura indecisão, desconhecimento, uma bela figura de acordo com nossa sensação de confusão.

"Nem se quando vai voltar", dá continuidade ao desconhecimento a partir do verso anterior utilizando, como está bem claro, a reiteração das mesmas palvras e, apoiando-se na condicional "se", o que reforça novamente o não conhecimento. Na transposição deste verso a uma estrutura mais acessível, teriamos: "Não se sabe se haverá volta e nem quando seria essa volta". Talvez surja a dúvida: mas volta do que? Embora seja uma dúvida bastante simples, expliquemos que trata-se da volta de algo, que não é preciso nomear, e que de qualquer forma, faz falta.

"Nem se o peito o que quer", vemos novamente a estrutura do verso anterior. Sua transposição ficaria mais ou menos assim: " Não se sabe o que o peito quer nem o que ele quer.

"E se volta quando é", precisa explicar? Rsrsrs...

"Que vai saber se até", se acontecer e quando acontecer é que se saberá o que é. Atentemo-nos para a refuta, embora se encontre confuso nessa especulação, de se falar do futuro, de coisas que ainda não aconteceram. É a própria refuta das expectativas (mergulhado nelas?).

"Quando volta ainda me quer", e aí o desfecho: um pobre diabo confuso, perdido em sua tentativa de não criar expectativas, de não sofrer por antecipação, esperando alguém ou alguma coisa que lhe faz falta.

Tranquílo?
Espero que tenha ajudado a entender um pouco mais do texto. A mim, ajudou.
Espero também que sirva àqueles interessados como uma demontração de como se cavucar na estrutura do texto seus significados recônditos.
(Oxalá, dê uma boa música algum dia.)

Abraço do tio.

janeiro 03, 2007 9:00 AM  
Anonymous Anônimo disse...

tio, obrigada pelas explicações. como são úteis hein!

mas vou dizer minha impressão do texto, tentando me distanciar do pós explicativo, embora seja bem difícil.

e sim, confuso! pois está aí também o sentido desse texto!

antes de confuso, me passou uma angústia da peste, aquela angústia da espera de algo que venha com muito mais coisas além do algo que já espera, que leva à perda dos sentidos no seu mais literal sentido (não se ouve mais, não se cheira mais, não se vê mais, não se tateia mais, não se degusta mais!)

janeiro 03, 2007 10:39 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Quando? Como? Onde? Por quê?
Bem me quer, mal me quer...
Belo texto.

janeiro 05, 2007 3:43 PM  

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