Confraternização

(Na geladeira)

segunda-feira, setembro 25, 2006

Centauro Violeiro e Centauro Cantador

Centauro violeiro e Centauro cantador
vieram gregos e viraram roçador
violam com a de 10 cordas de um senhor

O Brasil do passeio virou Brasil do serviço
igual brasileiro na Europa, parece sumiço
trabalham na roça de mandioca
tapioca?
"é um diliço!"

tão usando chapéu de couro,
enxada pesada no ombro,
peixeira na cintura
e conhecendo nossa cultura

Com pouco tostão no bolso,
levam a vida no dorso
economizam na janta pra deixar pro almoço

dormem no albergue do Seu Albuquerque
que nunca hospedara mito algum
e trabalham na roça dele
pra ganhar algum

Na praça da igrejinha
tocam viola modeira
cantando seu dia-a-dia
de multifária maneira

Centauro violeiro e Centauro cantador
são imigrante trabalhador
e, depois de 5 anos, ainda nada mudou

Um já tem dente de ouro
o outro só pensa em namorar
simpatiza com a mula Teresa
que nunca poderá amar

Centauro violeiro e Centauro cantador
cantam essa canção
de coração e com amor


Fred - 22/09/2006
Coleção Delirium

3 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Fred,

Gostei muito do texto. Acredito que ele retrate o cotidiano de milhões de imigrantes brasileiros ao redor do mundo, com todas as suas felcidades, angústias e dificuldades, porém, numa versão invertida, pois são os centauros, os europeus que imigram para cá. Acredito que o texto aborde também uma questão cultural. Em tempos de globalização, processo este que acelera a dominação dos mais ricos pelos mais pobres, agora não mais apenas no campo político-econômico, mas, também no cultural, o reconhecimento e a valorização de nossos costumes e tradições acabam por se constiruir em uma ferramenta de resistência à massificação e homogeneização proposta pelo discurso e práticas globalizantes. Acredito que o fato do texto retratar o fato dos europeus virem para cá e acabarem se adaptando a cultura e o ritmo de vida local, ilustram uma prática de aculturação (talvez esta palavra seja forte demais, imperialista demais, que tal miscigenação?)inversa, o que poderia, talvez, ser feito de forma mais efetiva por nós, buscando a valorização de nossos próprios símbolos e representações culturais. Mas, será mesmo que este é o correto a ser feito? Até que ponto que tal prática não seria apenas um imperialismo cultural às avessas? Isso não seria olhar para dentro do abismo e o abismo olhar para dentro de nós, como fala Nietzsche, nos levando a ter as mesmas práticas que tanto condenamos? Sabemos que muitas das respostas e soluções propostas em relação a este modelo globalizante/ neoliberal / capitalista, passam por idéias socialistas, libertárias, independente da corrente a que pertençam... Estas correntes pregam justamente o internacionalismo, o não-apego ao nacionalismo, por este estar baseado em uma moral burguesa, uma moral imposta de cima para baixo, uma moral opressiva e opressora. Não será o momento de construirmos um internacionalismo baseado nos anseios da maioria? Será possível unificar os desejos da maioria? Será que é possível uma posição ambígua em relação a ambos os modelos, mais ou menos como um Caminho do Meio proposto por Buda? Não sei. Ficam os questionamentos.

Gostei.

Parabéns.

Adriano

setembro 28, 2006 7:22 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Opa.
Obrigado pelos comentários.
Ser imperialista às avessas nunca resolveria nada, mas se valorizássemos mais e reforçássemos mais aspectos de nossa cultura teríamos a chance de acessar todas as culturas sabendo q a nossa se preserva. Hj não vemos isso acontecendo. Por isso eu acredito q nossa cultura precise ser redigerida e consumida como os europeus e norte-americanos fazem com as deles.
Misturei mitos nossos com gregos e acho q essa "miscigenação" cultural, visto q eles (os centauros) já estão "adaptados" à nossa cultura, como expus no poema, é válida e necessária.
A estória é o principal e só se reforçam as mensagens com a presença de culturas populares diferentes convivendo, representando povos diferentes.
Para saber a medida das coisas é necessário um maior conhecimento delas, por isso estou relendo nossa cultura e tornando-a tão curiosa quanto a estrangeira.

Embuti a relação de imigração como reforço dessas mensagens.

Mas vc foi ao ponto Adriano, isso foi legal.

Sem me lembrar de detalhes q possam faltar terminarei meus auto-comentários.

abs

setembro 30, 2006 2:25 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Fred, meu caro!
Agora com esses comentários que eu pude entender melhor o texto. Numa primeira leitura, não sei exatamente porque, eu não havia entendido a proposta do texto. Fui reler o texto e pude compreender melhor. Estranho essa mudança de interpretação...
Acho que foi justamente pelos comentários...não sei! Mas, não seria muito difícil perceber isso no texto. Preciso tentar me entender melhor...rsrs

E tem chaves para entender melhor o texto como "igual brasileiro na Europa"...
Realmente, não consigo entender minha própria falta de entendimento...rsrs
Mas, sem neuras!!!

Fredão!
Abraço!!

setembro 30, 2006 2:44 PM  

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