Confraternização

(Na geladeira)

segunda-feira, abril 24, 2006

Os Rústicos Não Amam*

Aqui estou eu a pensar - não sei se porque levemente embriagado, se acaso os homens rústicos são capazes de amar.
Imaginem um pedreiro a construir uma casa, mexer com concreto, levantar os blocos; imaginem se em tais condições é possível amar. Imaginem um pescador, a jogar a rede, destripar um peixe; imaginem um pescador assim apaixonado. Se amassem, preparariam incorretamente a massa, exagerando ou esquecendo um ingrediente, e a casa logo desabaria; não estariam atentos ao mar, mas sim ao luar, ou mesmo nem ao menos partiriam por medo de não mais voltar, o barco afundaria. Seriam maus pedreiros e maus pescadores, morreriam de fome.
Talvez encontrem esses homens uma mulher desiludida e servil ao chegarem cansados em casa. Talvez tenham cria. Mas, não amam. A dureza da vida lhes privou desse dom. E muito provavelmente não sentem falta, trabalham.
Eu que não tenho uma profissão assim rústica - nem ao menos tenho uma profissão, o que sinto? Fome, paixão? Escrever assim descompromissadamente faz de mim um rústico, um amante?
Edifico um texto, assim mal construído; pesco algum sentimento em mim reprimido na esperança de encontrar neste ato algum rusticismo, alguma paz pra se acaso eu não voltar.

Bruno*

3 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

...os rústicos devem amar, mas de outra forma, de forma prática, rústica!Com poucas possibilidades para se desenvolverem intelectualmente e por precisarem trabalhar, há pouco tempo para "trabalhar teoricamente os sentimentos" e a forma de se expressar...Com fome não se sente paixão e desta forma a filosofia vai ficando para os "satisfeitos".
...tanto eles devem amar q os imagino, os rústicos pescadores, desejando encontrar uma pérola, redondinha e brilhante para enfeitar suas amadas...
Enquanto não acham, eles trabalham,( e não pescam menos peixes ou constroem menos casas por amarem!) pescam e comem!E talvez haja pureza em perceber q um abço, bjo, ou olhar e um peixe vai, pra matar a fome, satisfaça corpo e alma desses rústicos q fazem da dureza da vida pretexto para amarem ainda mais*

abril 25, 2006 2:12 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Olá Brunão. Blz?
Mais uma crônica bacana, levantando uma questão interessante.
Os rudes ou rústicos podem amar, na minha sincera opinião, como todo mundo pode. Mas ñ amamos integralmente em todo o tempo. Acho q a sensação provocada pelo amor é meio difícil de identificar quando começa e quando para totalmente.
Quando estou jogando futebol ñ amo ninguém pq ali ñ estou me recordando de alguém.
Mas, com a mente tranquila somos capazes de direcionar ou identificar quem amamos.
o amor tbm precisa da noção de tempo-espaço, mesmo q ele seja eterno ele está em algum lugar.

abs

abril 25, 2006 3:15 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Oi Bruno, pela primeira vez estou visitando o Blog de vocês... E o primeiro texto lido por mim, foi o seu... Causou-me grande inspiração, talvez pela beleza de suas palavras, talvez pelo que me fez imaginar sobre o "rústico e sua capacidade de amar". Imaginando um pescador que desperta na aurora de cada dia, sem ter a menor garantia de que levará para casa o alimento de sua família, que sequer tem a certeza de que voltará aos seus, não concebo a idéia de que este não carregue em seu (talvez) sofrido coração pelas dificuldades diárias, um grande amor: por aquela que o acompanha, passo a passo, no caminho da vida, por aqueles que por serem fruto desta União, garantem a sua própria imortalidade, um amor pela natureza que lhe oferece meios de sobrevivência, enquanto os seus iguais (homens) tiram-lhe tudo o que puderem e, ao final do dia, com o resultado do seu esforço, um amor dedicado ao "Mistério da Existência" por ter sido capaz de resistir ao maior dos sacrifícios apenas para ver nos olhos daqueles que acreditam nele, um brilho... O brilho do mais sincero amor. Sinceramente não posso acreditar em outra força, além do amor, capaz de mover os rústicos... Se não fosse por este sentimento, teríamos, certamente um naufrágio a cada instante...

abril 29, 2006 3:05 PM  

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