Um Falante de Saturno*

Sabemos que quando uma pessoa nos faz uma pergunta do tipo ''como vai?'', ''tudo bem com você?'', ou ''o que você tem feito?'', ela raramente deseja saber o que está de fato acontecendo conosco. Essas perguntas, na verdade, não passam de uma estratégia para que elas possam nos contar o que lhes acontece; ou, no mínimo, não passam de "expresões fáticas", aquelas que não querem dizer nada e só servem para testar o canal de comunicação, as famosas conversas de elevador. Se respondessemos a um "tudo bem?" com um "não", certamente essas pessoas se espantariam, surpresas com a inesperada - e inconveniente - resposta, como se fossemos alienígenas, talvez habitantes de Saturno, que é o planeta da tristeza. Mas, se diante dessa complicadíssima questão não conseguissemos conter o temível "não", deveriamos ao menos ser prudentes e afirmar "ah, tudo bem", para depois, com muita cautela, prosseguirmos "quer dizer, mais ou menos..."
No entanto, acredito que este fato não esteja presente somente em estratégias discursiavas como aquelas, mas sim, na prática de conversação como um todo. Embora as pessoas se esforcem para revezar a posse da palavra, o que existe é uma verdadeira guerra entre os participantes da conversação pela manutenção de seus assuntos, de suas preocupações. E é por isso que eu pretendo chegar a um nível tal de domínio discursivo que me permita, numa conversa, não deixar escapar nenhum tipo de opinião ou informação particular e pessoal, manipulando-a de modo que nela só sejam expostos conteúdos referentes ao meu interlocutor. Assim, eu não cometo o incoveniente de interrompê-lo com minhas irrelevantes opiniões que não o dizem respeito e não o interessam.
Para finalizar, expando esse tema e me arrisco a dizer que as pessoas, se não todas, a maioria delas, não se importam com a gente em nenuhum sentido, são indiferentes, assim como esse texto. Me previno de possíveis retalhações e informo que não sou contra o "egoísmo" (não no sentido moralista); minha intenção foi só a de entender as pessoas para melhor respeitá-las.

"...a discussão é a forma polida do instinto batalhador, que jaz no homem, como uma herança bestial..." Machado de Assis

Bruno*